Em Nome da Fidelidade

Pela primeira vez na história do Centro Comunitário Minas da Panasqueira utentes e colaboradores daquela resposta social da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF) reuniram-se para a celebração das Bodas de Brilhante dos nonagenários António Dias Miguel e Alda Anunciação Costa.

Nascidos, batizados, criados e casados em Alcongosta, António e Alda conheceram-se há muitos anos no caminho romano, namoravam em casa dela sob o olhar atento de uma irmã de Alda.  Namoraram nove meses. “Demos o primeiro beijo com a bênção de São Miguel no dia 29 de setembro, já estávamos casados pelo civil”, conta António.

Casaram pela igreja no dia 21 de outubro de 1944. Setenta e cinco anos depois renovaram os votos de lealdade na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, numa cerimónia surpresa realizada na Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) onde vivem desde 2016. No Centro Comunitário Minas da Panasqueira, as Bodas de Brilhante celebradas pelo sacerdote André Roque constituíram um momento de alegria e emotividade a que assistiram utentes e colaboradores da SCMF.

Junto da atual família, pois os dois filhos e os oito netos e bisnetos não puderam marcar presença, António Miguel e Alda Costa demonstraram como a fidelidade e harmonia são a base de uma relação tão duradoura.

“Não separe o homem o que Deus uniu. Deixemo-nos iluminar pelo diálogo, confiança, perseverança”, referiu o padre de Barroca Grande. E se há setenta e cinco anos, quando o padre José Ferraz lhes conferiu o sacramento do matrimónio, chovia, na última segunda-feira o tempo apresentou-se enevoado e com aguaceiros.

“Continuará a ser um casamento abençoado” notaram as colaboradoras do Centro Comunitário que caracterizam o casal de nonagenários como “uma bondade de pessoas”.

O mesmo sentimento é corroborado pelos amigos que têm feito no lar. “São bastante sociáveis, dão-se com toda a gente” afirmou Patrocínia Taborda que é de Valverde e conhecia o casal de Alcongosta desde os tempos em que trabalhou em Alcongosta. “São um casal amoroso, dão-se bem e querem-se muito um ao outro”, concluiu a também utente da SCMF.  João Campanha Bernardo também vive no lar mas tem contacto com os noivos desde o tempo em que trabalhava na Câmara Municipal do Fundão e os conhecia da vida no campo em Alcongosta. Considera-os “pessoas impecáveis”. “Vê-se que há amizade, reciprocidade, conviver com eles é alegria”, disse-nos.

A boa disposição de um e de outro bem como a disponibilidade e adesão às tarefas propostas dentro e fora da ERPI são igualmente destacados pela diretora técnica Helena Brito. “São muito dinâmicos, ele participa em tudo, a senhora Alda tem algumas limitações de locomoção, mas é bastante divertida, gosta muito de dançar e dá tudo para ir aos passeios no exterior”.

Dos relatos de vida em comum fazem parte memórias de provações e vivências inesquecíveis.

“Ele é que me convenceu. Foi um namoro à pressa. Ele encantou-se comigo”, confidenciou Alda. António confirma, verbalizando o dia em que se cruzaram pela primeira vez no caminho romano. “Casámo-nos com menos de vinte anos e tivemos o primeiro filho com vinte e dois. Têm uma vida muito cheia de trabalho e a nossa filha é muito doente”, acrescentou a mãe de família.

António recentra a conversa lembrando uma viagem a Paris para serem padrinhos de casamento e o problema de saúde (acidente vascular cerebral) que em França tomou conta de Alda. “Era preciso levá-la a um médico especialista que vinha da Alemanha, precisei de arranjar seiscentos contos para salvar a minha mulher que esteve dez dias em coma. No dia seguinte tinha os duzentos francos e tudo se resolveu a minha Alda voltou a falar”. “Foi a maior prova de amor”, enfatizou.

Nessa partilha de momentos áureos do casamento, o casal Miguel recordou-nos com um sorriso no olhar as inúmeras viagens realizadas durante catorze anos. Através do Inatel permitiram-se por exemplo ir aos Açores e à Madeira. Nas Bodas de Ouro foram a Fátima e fizeram-se acompanhar de toda a família.   

“Não estava à espera desta festa, estou tão agradecido, que Deus lhes dê mais anos do que nós queremos para nós”. – António

Memórias verbalizadas à margem de uma comemoração que foi um hino à fidelidade. “Damos graças a Deus pela união que aconteceu num dia de chuva e se a boda molhada é abençoada, hoje também chuviscou”, sentenciou, orgulhoso, António Miguel que nas Bodas de Brilhante recebeu Alda com um terno beijo nos lábios.

Além da missa houve brinde à vida, champanhe e bolo de casamento. Não faltou o véu, o bouquet e um pé de dança. Não houve boda nem sessenta quilos de carne para os sessenta convidados como no dia do casamento. Mas a festa traduziu a dimensão humanas do casal que na vida ativa se ocupou da cestaria, produção de cereja e outros trabalhos no campo.

Que nunca lhes falte a saúde!

“Bom dia cabrinha”!

Francisca e Valentina dialogam com as cabras de baixo porte e raça beirã. As características são o que menos importa a quem tem apenas cinco anos de idade. A miudagem encanta-se com a energia de qualquer dos animais da Quinta Pedagógica do Fundão e até há quem peça às educadoras de infância e auxiliares educativas para levarem um e outro, vários dos animais que povoam a Quinta da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

Benedita corre ligeira entre o Lago e as casinhas dos animais. Traz na cabeça um chapéu amarelo mas não é cor que a distingue do grupo maioritariamente protegido do sol com chapéus verdes. Benedita faz perguntas. Muitas perguntas! À beira do galinheiro não esconde o entusiasmo pelo colorido e diversidade das galinhas. “O galo tem penas de muitas cores”, diz a pequena grande curiosa.

A manhã começou fria mas o sol abriu e a jornada tornou-se imensamente agradável. Antes de rumarem ao forno a lenha, onde fizeram pães de chouriço, os meninos e meninas oriundos de Castelo Branco divertiram-se bastante no parque das brincadeiras.

Entusiasmada com a descoberta de um mundo que, não sendo novidade, só está ao alcance de quem vai às aldeias ou tem familiares que cuidam das hortas e dos animais, a criançada deixa escapar que em Monsanto “a mãe também apanha ervas aromáticas”. Mais precisamente alfazema!

Experiencias sensoriais que o mundo rural permite e que na Quinta Pedagógica ganham maior relevância. Será o leitor capaz de imaginar a alegria de João Maria quando entrou na capoeira das galinhas e resgatou o primeiro ovo da manhã?

Não fosse o animador Ricardo Marques ter imposto a ordem mostrando o ovo e o mesmo esborrachar-se-ia nas mãos de alguém.

É nesse instante que a visita guiada às crianças do Jardim de Infância Alfredo da Mota retoma a temática da reciclagem e aproveitamento de tudo o que a Quinta dá. Para que servem as folhas das árvores, para onde são encaminhadas as maçãs e frutos de Outono que não estão em condições de alimentar as pessoas.

Reflexões que, certamente, terão utilidade no percurso de aprendizagem das crianças finalistas do ensino pré-escolar. O passeio pedagógico que encantou crianças e adultos terminou com um desafio: “Voltem no São Martinho da Quinta Pedagógica”!

Voltarão?

Viajar na memória

Era uma vez uma companhia de viagens com o mesmo nome do Lar Nossa Senhora de Fátima. Nesta resposta social da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF)  a criatividade e inspiração são um lugar-comum. Desta vez as equipas de animação sociocultural e psicologia idealizaram uma viagem de sonho. Técnicos e utentes definiram um plano de viagem, escolheram os protagonistas, elegeram o piloto e a hospedeira de bordo, realizaram o cenário e filmagens. Foram dias de empenho e criatividade. O resultado final foi uma delícia.

Além do vídeo sentido como deles e delas, a viagem encantada motivou uma tarde de conversas sobre viajantes num tempo ausente mas povoado de lembranças inesquecíveis.

Nesse diálogo com a memória percebemos como a idade da hospedeira de bordo lhe tolhe os sonhos remetendo-a para o fim da vida terrena. Maria José Pina toda a vida gostou de passear mas as viagens foram sendo adiadas. Ora por a vida ter sido madrasta, ou por questões de natureza financeira, dona Zezinha (como carinhosamente a tratam no Fundão) acabou descobrindo o prazer de viajar quando ficou viúva. “Não comecei logo a passear, muito menos a viajar, sabe como são as pessoas a comentar a vida alheia!”.

Os constrangimentos próprios de uma época social povoada de outras vivências que não vêm ao caso continuarão na baú das recordações pois o momento é para celebrar as viagens. E nesse contexto Maria José Pina recorda uma ida ao Santuário de Lourdes de que gostou particularmente. “Subi todas as escadas de joelhos”, disse sobre uma penitência que cumpriu com “dedicação e espiritualidade”. “Na altura andava na casa dos sessenta anos”.

A viagem de sonho de Maria do Rosário dos Santos Godinho foi à Madeira e significou a primeira experiência de viajar em grupo. Contudo, a utente no lar Nossa Senhora de Fátima no Fundão, recorda outras deslocações ao estrangeiro. “Quando era mais nova, já que agora mal posso andar quanto mais fazer grandes deslocações”, diz conformada a utente da SCMF que viu o vídeo da viagem imaginada como “uma excelente dinâmica” capaz de “nos deixar bem-dispostas”.

Manuel da Costa Barros também se vestiu a rigor para a viagem de avião na Companhia Lar Nossa Senhora de Fátima. A conversa, à volta dos dias em que foram desafiados a pensar a viagem de sonho, remete-o para um passeio realizado à vila termal de Unhais da Serra. “Gostei tanto que me apetece fazer outra vez”, admite o utente da Misericórdia. Também Joaquim Pina se congratula com a participação na viagem imaginada. “Foi maravilhosa”!

Convidado a recuperar as lembranças de passeios de vida, Joaquim Pina explora os tempos vividos numa aldeia do distrito da Guarda e os tempos em chegou a deslocar-se de burro. “Também andei de avião, bicicleta, motorizada e carro”, contou.

“Esta viagem foi um bom exercício” confessa Maria Amélia Serra Santos. A mulher que fez de turista usou um chapéu de palha, colocou óculos de sol e uma camisola “tão agradável que me deixou feliz”. Natural de Alcongosta a idosa partilhou com os convivas as marcas de uma vida dura, tantas vezes preenchida com viagens a pé entre Alcongosta e o Fundão. “Carregava à cabeça os volumes, as compras que fazia na feira”. Hoje em dia a senhora cujas rugas de expressão lhe definem o rosto ainda acalenta o sonho de deslocar-se a França para reencontrar um cunhado de quem tem “indescritíveis saudades”.

Saudade é o sentimento que norteia as palavras de Ana Rosa Lopes. Saudade e nostalgia de uma excursão realizada na adolescência que lhe permitiu conhecer as gutas de Santo de António e o Santuário de Fátima. “Foi um encontro com a natureza muito rico. Havia bonitos charcos de água e os visitantes deixavam lá moedas, escudos”.

“Foram dois dias, almoçamos em Alcobaça onde vimos o Mosteiro e ainda passámos pela Batalha onde também me agradou muito observar o Mosteiro”, especifica. Aos 61 anos Rosa centra a memória nos antepassados e referindo-se às ruinas de Conimbriga, alerta para o Museu onde através dos muitos anos de escavações é possível imaginar o quotidiano de uma antiga cidade romana. Presentemente Rosa Lopes tem vontade de conhecer a serra da Estrela. “Nunca lá fui, leva-me lá”?

A pergunta não ficou sem resposta e a seu tempo a SCMF cuidará de mostrar a todas as Rosas e seus pares a beleza desse cartaz turístico maior chamado serra da Estrela.

Não é o caldeirão mas sim uma sanita

Uau disseram as crianças quando entraram no Celeiro da Quinta Pedagógica do Fundão. Se a entrada no espaço de acolhimento deste espaço de lazer no Fundão foi uma festa, imagine o leitor o quanto pularam, dançaram e cantaram as crianças a quem foi dada a possibilidade de ouvir um pouco de música sob o efeito das luzes como se estivessem numa discoteca.

As crianças são meninos e meninas do primeiro ciclo do ensino básico da escola Dr. José Dinis da Fonseca na Guarda. Eram mais de uma centena e vieram em dois grupos. Conhecer e experienciar a vida na Quinta foi a motivação da visita de estudo mas a criançada levou do Fundão muito mais que a memória visual de um espaço encantador no sopé da serra da Gardunha.

Ainda no celeiro encantaram-se com as várias vidas e funcionalidades do espaço, que na próxima época natalícia haverá de ganhar novas atrações, tiveram contacto alfaias agrícolas focando atenção redobrada numa antiga sanita revestida a azulejo que os remeteu para a história da Carochinha e do João Ratão.

Atenta às explicações e dinâmicas do animador Ricardo Marques, a miudagem participou ativamente nas perguntas e respostas sobre o celeiro, cereais e origem de muita da alimentação para os animais da Quinta Pedagógica do Fundão.

Alguns já ouviram os pais e os avós falarem-lhes do ciclo dos cereais.  Mas certamente poucos tiveram ocasião de colocar as mãos na massa que resulta da farinha que vem dos cereais. Foi então que se entregaram ao atelier mãos na massa.

Experiências sensoriais inesquecíveis, como lembráveis serão os momentos em que puderam tocar na cabrinha bebé ou fazer festas ao burro Serafim que mais tarde puxara a carroça em que a criançadas fizera passeios.

Na conexão com o mundo animal os meninos e meninas deram vivas, soltaram gargalhadas e quiseram tirar fotografias com os porcos vietnamitas que também moram na Quinta da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

O “trabalho” na quinta não chegou ao fim sem uma breve experiência na recolha das canas do milho e no descamisar das massarocas. Atividades marcantes no contacto com a terra. Atividades que deixarão sementes quanto ao valor deste projeto educativo e de experiências que atraem cada vez mais visitantes à Quinta situada numa das portas de entrada da cidade do Fundão.

Nesta altura do ano há por ali muito para compreender. Há visitantes tentados a colher maçãs no pomar ou a deixarem-se envolver nos aromas que dançam no jardim das aromáticas. A hortelã chocolate prende o olfato de cada visitante.

Utentes da SCMF no Dia do Desporto Sénior

Ana, Bernardete, Joaquim e José são quatro dos trinta utentes da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF) que no dia 26 de setembro participaram no Dia Europeu do Desporto Sénior. Era quinta-feira de manhã e o dia prometia ser bastante quente e soalheiros por isso saíram do Centro Comunitário Minas da Panasqueira (Barroca Grande), lar Nossa Senhora do Amparo (Aldeia de Joanes), lar da Misericórdia e lar Nossa Senhora de Fátima (Fundão) com roupa mais fresca e calçado confortável para irem ao Complexo Desportivo da Covilhã.

A iniciativa promovida pelo Instituto Português do Desporto e Juventude foi dinamizada por alunos voluntários do Departamento de Ciências do Desporto da UBI-Universidade da Beira Interior.

BeActive era o lema de uma jornada que permitiu aos seniores da nossa instituição praticarem jogos tradicionais, jogos de equilíbrio, tiro com arco, boccia sénior entre outras dinâmicas. No regresso “a casa” a satisfação e superação foi o sentimento mais partilhado pelas mulheres e homens que experienciaram uma manhã bem movimentada.

Ana Martins de 96 anos desenvolveu várias atividades. Não sentiu cansaço mas manifestara-se tonta  com “tanta atividade e movimentos”. Maria Joaquina de 92 também fez das suas. “Atirei ao alvo com pistola, joguei boccio e ainda me sinto cheia de energia. Deveria ser sempre assim”. Também Bernardete Luciano que é mais nova, tem 75 anos, jogou à bola e fez tiro ao alvo. No final declarou-se grata pela experiência e confessou:“nem estou cansada”. Maria de Lurdes Serra de 78 também amou a jornada. Custou-lhe correr tanto mas ainda assim disse que “deveríamos sair mais vezes e fazer estes jogos”.

Joaquim Amaral de 84 anos não praticava tiro ao alvo desde 1956, quando esteve na tropa. “Agora já nem podemos ir aos passarinhos” e por essa razão esta atividade lúdica “soube-me a pouco”. Confessou-se entusiasmado com a ideia reiterada de sair todos os dias do Centro de Dia do Fundão para “apanhar ar puro, pois isto é que nos faz bem”. O artesão que costumava fazer cestas de fitas de plástico, sente falta dessa ocupação que ajudava a quebrava-lhe a “monotonia a o ciclo de conversas comuns”

Celeste Marques Vaz de 86 anos também frequenta o Centro de Dia Fundão. No final das atividades confirmou o cansaço que o olhar transparecia mas minimizou esse desgaste com a importância de sair da sala de convívio. “Até ficamos mais bem-dispostos”, confessa a utente que só não gostou do jogo das setas. “Não tenho força nas mãos!”.

Mais força e destreza apresentava António Fonseca que acertou no tiro ao alvo. Aos 71 anos denota especial interesse em atividades fora da Estrutura Residencial para Idosos. A sua opinião é corroborada por Ana Rosa Lopes que adorou todos os jogos com bolas, salientando a importância do Dia Europeu do Desporto Sénior. “Isto é que é vida!” Afirmou  a jovem de 61 anos.

Kelly O´Hara presidente do Departamento de Ciências do Desporto da UBI explicou a importância de, desde há cinco anos, com o apoio do IPDJ, realizarem o Dia Nacional do Desporto Sénior. Vincou o sentimento de gratidão e entrega dos 130 alunos voluntários do curso de Ciências do Desporto num encontro que também foi intergeracional pois houve partilha entre crianças e idosos.

O desenvolvimento cognitivo e a prática desportiva. A prevenção das quedas e a promoção do equilíbrio, estiveram entre os objetivos da iniciativa que juntou seniores de toda a região da Cova da Beira. Houve ainda “laser run com o apoio do Penta Clube da Covilhã e danças afro-americanas desenvolvidas pela Escola Pé de Dança”. “O boccia bastante praticado por seniores foi das atividades com maior adesão” vincou a docente.