Livro das Raças lançado na Quinta Pedagógica

Crianças de várias idades estiveram no dia 22 de fevereiro na Quinta Pedagógica da Santa Casa da Misericórdia do Fundão para participar na mostra de raças autóctones que assinala o 10-º aniversário da Exposição Canina Nacional do Fundão agendada para os dias 2 e 3 de março.

Enquanto na antiga Moagem do Fundão decorriam as primeiras Jornadas de Inovação e Valorização das Raças Autóctones, na Quinta a miudagem pulava de alegria com a diversidade de surpresas que a iniciativa reservava. A descoberta do processo artesanal da ordenha das cabras, ovelhas e vacas cativou os visitantes que puderam experienciar como se ordenha o leite.

Momento da ordenha

A mostra foi visitada por cerca de 350 crianças do ensino pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico da região e reuniu diversas raças: burro mirandês; cabra charnequeira; cabra serrana (ecótipo jarmelista); ovelha churra do campo; ovelha serrana da estrela; ovelha merina da Beira Baixa; vaca jarmelista; galinha preta lusitânia; galinha branca, galinha pedrês portuguesa; galinha amarela.

A par da exposição de animais destaque-se a palestra educativa dedicada à alimentação, higiene, mitos e lendas sobre os animais bem como a oficina dedicada à feitura do queijo que prendeu a atenção da criançada.

Por toda a Quinta Pedagógica havia motivos de interesse. Em frente ao celeiro a exposição dedicada à lã, seus derivados e processo laneiro deram um colorido diferente ao recanto com vistas para a serra da Gardunha.

Na parte da tarde realizou-se o lançamento do primeiro volume da coleção «O Livro das Raças» editado pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária dedicado às raças autóctones das Beiras e Ribatejo.

Do índice constam algumas das 61 raças típicas existentes em Portugal sendo que 15 são de espécie bovina, 16 de raças ovina, 6 de raça caprina, 3 de suínos, 6 de equídeos, 4 raças de galináceos e 11 raças de canídeos.

«O Nosso Homem» conversou com seniores da Santa Casa

Descreve-se como um “animal social” pois não sabe estar sem falar e conviver com os outros. Chama-se António Alves Fernandes escreve regularmente na imprensa regional e na blogosfera. Em 2017 reuniu em livro quinhentas das inúmeras crónicas de vida no livro «O Nosso Homem».

“Vocês no tempo que aqui passais, e que é muito, tendes tempo para falar de tudo e mais alguma coisa. Essa partilha faz-nos bem”, começou por dizer o contador de estórias que dinamizou a sessão de fevereiro do projeto «Conversas Com», realizada no lar Nossa Senhora de Fátima, resposta social da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

Vídeo no momento da sessão de partilha

Num registo informal, de pé, mesmo à beira dos homens e mulheres que no dia 21 de fevereiro quiseram participar na sessão, António Alves Fernandes falou-lhes ao ouvido. A sessão interativa permitiu à plateia perceber a importância dos serviços prisionais no percurso do antigo seminarista e combatente na guerra colonial.

“Ainda tenho o cordão umbilical ligado aos estabelecimentos prisionais. Quando fui diretor na cadeia vivi o drama das vidas humanas que tiveram familiares presos”, descreveu o orador.

António Alves Fernandes que é natural de uma terra de contrabandistas (Bismula no concelho do Sabugal) vive em Aldeia de Joanes (Fundão).É visita regular no lar Nossa Senhora do Amparo (Aldeia de Joanes) e gosta de escrever. “Desde pequeno, quando ainda se faziam redações na escola, me diziam que os meus textos têm qualidade. Fui escrevendo e gosto de me dedicar a contar estórias sobre pessoas, tradições populares e religiosas. Também escrevo sobre os Santos Populares ou a matança do porco”, descreveu.

António Alves Fernandes

Na sessão em que o ouviram com particular entusiasmo, António Alves Fernandes explicou que tem em mãos uma estória sobre um amolador do Alentejo que conheceu no Fundão.  “As pessoas são o mais importante, todas as pessoas e as profissões são relevantes”. Palavras ditas numa intervenção em que recorreu a figuras de estilo e metáforas transportando a conversa para questões da atualidade.

Também contou a estória de Florentino Lampreia, um sénior que mora no lar da Misericórdia (Fundão) cuja experiência de vida mereceu crónica no livro editado e há muito tempo esgotado. António Alves Fernandes não explicou se está na forja uma segunda edição de «O Nosso Homem» mas garantiu que escrever lhe faz bem.

Lê-lo e ouvi-lo também inspira qualquer pessoa. Ana Rosa, utente no lar Nossa Senhora de Fátima, rendeu-se à tertúlia e deixou escapar “acho o senhor maravilhoso”.

E naquele instante António Alves Fernandes ainda não tinha recordado a crónica dedicada ao «Senhor Adeus». Uma personagem que em Lisboa fazia adeus a todas as pessoas cuja movida e stress as impedia de falarem uma com as outras. “Hoje os transeuntes parecem estranhos uns com os outros e no entanto vivemos na globalização”, lamentou.

No fundo a conversa com António Alves Fernandes foi mais que um momento de partilha. Foi um momento retemperador, caracterizado por boas energias.

Venha mais vezes senhor António.

Poetas do Amor

No âmbito das atividades que assinalaram a «Semana dos Afetos» nos vários lares e centros de dia da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF) destaque-se a sessão de poesia em que os utentes do Centro Comunitário Minas da Panasqueira deram voz ao sentir e apresentaram as quadras que agora aqui partilhamos.

E o que é o Dia de São Valentim?

Começaremos pela poesia de Carlos Manuel Nabais Antunes, mas também publicaremos aqui os poemas e quadras de outros utentes daquela resposta social em que os seniores foram desafiados a descrever o que é o amor.

Iniciemos, então, as leituras poéticas!

S. Valentim

S. Valentim sacerdote corajoso

Embora imperador proibisse

Ele dava o sacramento do matrimónio

A todo o casal que o pedisse

É dando que se recebe

Em qualquer idade

Até no amor

É uma grande verdade.

No dia dos namorados

É dia de recordar e fortalecer

A flor do amor

Que entre os dois pode nascer.

No meu coração

Na minha cabeça

Peço a S. Valentim

Que o nosso amor fortaleça.

Há um dia

Para os que amam com o romance

Para fazer crescer o amor

Para que a relação avance

Para que a relação avance

Recordando o que já passou

Para que se possa amar

Mais do que já se amou

Mais do que já se amou

Unindo a minha alma á tua

O amor é como a lua

Quando não cresce míngua

No dia de S. Valentim

É dia dos namorados

Para os solteiros

E também para os casados.

Todos podem namorar

É tão bonito o amor

Quando é puro

E verdadeiro

Tem maior valor

Do que qualquer joia

Ou dinheiro.

O amor não tem idade

E nasce no coração

Só o recebem

Aqueles que o dão.

Antes de namorar

Tem de se pensar

Se a tua namorada é bonita

Olha para a avó dela

Porque é assim que ela fica.

Se é assim que ela fica

Se com ela podes ficar

O amor não olha para os olhos

Mas com o coração

Para poder frutos dar.

Para poder frutos dar

O amor tem que ser sincero

Importa tanto o que queres

Como o que eu quero.

O dia dos namorados

É para quem sabe amar

 Com gestos e palavras

O amor celebrar.

O amor celebra-se

Em cada dia da semana

Qualquer dia é bom

Para se revelar o amor

A quem se ama.

A quem se ama

Não se pode deixar de esquecer

Que tem um amigo

Aconteça o que acontecer

Aconteça o que acontecer

É preciso lembrar

É bom ser amado

Mais importante é amar.

S. Valentim

Não tem medo

E contra a proibição

Casava todo o casal cristão

O imperador descobriu

E mandou o matar

Por causa da sua história

A ele recorre que quer namorar.

Carlos Manuel Nabais Antunes

O craveiro da minha sogra

Só dois cravos é que deu

O mais velho não o quero

O mais novo quero-o eu.

Maria César

Cravo roxo á janela

É sinal de casamento

Menina recolhe o cravo

Que o casar ainda tem tempo.

António Branco

Anda lá para diante

Se não andas ando eu

Não me quero encontrar

Com um amor que já foi meu.

Alda Costa

Amarelo é o limão

E também a banana

O meu coração já escolheu

Que é a você que ele ama

Vermelho é fruto da romã

Morango também o é

Nós juntos somos

Como o leite e o café.

Verde é alface

Que alimenta quem a come

Gostava que ela sonhasse comigo

Sempre que ela dorme.

Carlos M. Nabais Antunes

Minha mãe para me casar

Prometeu-me uma galinha

Ao fim de me casar

Deu-me as penas que ela tinha.

Alda Costa

Quando eu era pequenina

Minha mãe me embalava

As moças todas me davam beijos

Agora não me dão nada.

Maria Graziela Fernandes

Não te encostes á barreira

Que a barreira deita pó

Encosta-te á minha cama

Porque eu durmo só.

José António Catorze

A lua ilumina a noite

O sol ilumina o dia

Queria ser como eles

Para sempre te fazer companhia.

Carlos M. Nabais

Quem me dera ter a liberdade

Que o sol e a lua tem

Para ter o gosto de te beijar

Sem pedir licença a ninguém.

José António Catorze

Teus olhos castanhos

Prometem amor e carinho

Mas quem os quiser

Tem que ter bom coração

Se não fica sozinho.

Carlos M. Nabais

Os olhos pretos não me agradam

Os olhos claros também não

Só os olhos acastanhados

Me dão paixão

Carlos M. Nabais

A alegria dos meus olhos

Não sei quem a mim os roubou

Tão alegre que eu era

E agora tão triste sou.

José António Catorze

Eis-me aqui em Portugal

Nas terras onde nasci

Por muito que gosto delas

Ainda gosto mais de ti

Carlos Manuel Antunes

Debaixo da oliveira

Não cai chuva nem orvalho

Menina que há-de ser minha

Não me dê tanto trabalho.

 Maria Patrocínio Almeida

Salgueirinha á borda de água

Tecidinho á mão torta

Não há nada mais macio

Que as mamas (peito) de uma cachopa.

   António Miguel

Rosas são vermelhas

Violetas azuis são

O teu sorriso foi a chave

Que abriu meu coração

Que abriu me coração

E o fez generoso

Pronto para corresponder ao teu

Com um gesto carinhoso

Com um gesto carinhoso

E o que mais o amor quiser

A bondade abre os caminhos do amor

Para o que der e vier.

 Carlos Manuel Nabais Antunes

É sempre bom amar

Amar mas primeiro Jesus

Que não nos deixa de enviar

Para nós a sua divina luz.

É tão bonito o amor

Quando é puro e verdadeiro

Tem sempre maior valor

Do que qualquer joia ou dinheiro.

O dia de S. Valentim

É dia dos namorados

Para casados ou solteiros

Todos podem ser beijoqueiros.

O amor não tem idade

E nasce no coração

Ás vezes é felicidade

Outras é desilusão.

 Maria Fátima Marmelo

O homem é fogo

A mulher é estopa

Quando estão juntos

Anda o diabo á solta. (

Carlos Manual Nabais Antunes

As vivências associadas ao amor e a valorização dos afetos também marcou a «Semana dos Afetos» no lar Nossa Senhora de Fátima (Fundão).

A semana que ficou marcada pela visita da Rádio Cova da Beira permitiu aos seniores dessa resposta social da SCMF apresentarem e lerem poemas de amor que posteriormente foram ouvidos na emissão de rádio.

Das várias iniciativas ali realizadas merece igualmente ênfase o dia dedicados aos doces. Nesse caso os utentes do lar Nossa Senhora de Fátima, Centro de Dia do Fundão e Unidade de Cuidados Continuados do Fundão participaram num atelier de culinária em que a animação se aliou à psicologia.

A valorização do conhecimento pessoal, o trabalho das reminiscências, o sentido de humor e a perceção de auto estima e de auto competência estiveram em foco. Foi uma experiencia muito doce.

Descobrir a pista de dança depois dos noventa anos

“Abençoado lar que nos leva a todo o lado”. A frase simboliza gratidão e contentamento pela experiência que marcou o Dia dos Namorados no universo sénior das respostas sociais da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF). Foi verbalizada por Maria Joaquina Gonçalves, minutos depois de dezenas de utentes SCMF terem participado na iniciativa «One Billion Rising Solidarity», dinamizada pela Coolabora, e que teve como objetivo demonstrar à sociedade que é possível libertar o espírito e a mente numa dança coletiva pelo fim da violência contra as mulheres.

Depois de hora e meia na discoteca, Maria Joaquina Gonçalves já não conseguia estar mais tempo de pé. Embora tenha passado grande parte da tarde sentada a observar as danças de outras pessoas que com ela partilham a vida no lar da Misericórdia, no Fundão, Maria Joaquina, de 92 anos, confessa-se “estafada”, mas também não esconde que “gostei muito de vir aqui”.

Maria Bárbara Batista Taborda e Maria Joaquina Gonçalves

Na tarde de dia 14 de fevereiro, os seniores de várias idades que estiveram na Companhia Club, na Covilhã, viajaram no tempo e na história de grandes canções. Uma experiência impar na vida de grande parte daquelas pessoas que ou nunca tinham ido a uma discoteca ou pisaram uma pista de dança faz muitos e muitos anos.

Há iniciativas maravilhosas e esta fechou com chave de ouro a «Semana dos Afetos» que durante dias marcou as atividades nos lares e centros de dia da SCMF.

Maria Bárbara Batista Taborda, utente no Centro Comunitário Minas da Panasqueira (CCMP), de 79 anos de idade nasceu em Alcongosta e já tinha ido a uma discoteca quando o marido estava no estrangeiro. Foi na Alemanha que entrou pela primeira vez numa pista de dança. Embora manifestasse algum desconforto nas pernas e nos pés, a expressividade dos olhos azuis de Maria Bárbara deixam transparecer a alegria e apreço por uma oportunidade “diferente do habitual”. Se bem que no CCMP “fazem sempre o melhor partilhando connosco estas boas iniciativas”, diz-nos com um sorriso que denota boas energias.

A atividade mereceu o elogio da psicóloga júnior na SCMF Beatriz Aparício, ao sublinhar que a ida à discoteca demonstrou que aquelas pessoas “têm ainda muita vida e experiências para descobrir” o que se torna valioso na medida em que “os homens e mulheres de idade avançada comprovam que ainda têm muito para viver e que os motiva experiências desta natureza”. “A dança associada à música e ao humor, sentirem que ainda conseguem fazer muitos movimentos, cantar, fazer rir outras pessoas, sabendo estar em grupo, motiva-os e enche-os de energia”.

Uma alegria contagiante disse-nos Maria Martins Duarte que teve o primeiro contacto com uma pista de dança no Inatel de Vila Nova de Cerveira, aquando dos passeios em que ela e o marido, também utente na SCMF, “saltavam e dançavam até a festa acabar”.

Do Centro de Dia do Pesinho, destaque-se ainda o testemunho de Beatriz Trindade que foi ao cabeleireiro e se preparou a rigor para o regresso à discoteca. “Foi mesmo muito bom, tenho pena que as pernas de alguns de nós já pesem”, disse entre gargalhadas e sublinhando o ambiente de festa e boa-disposição que marcaram a viagem entre o Pesinho e a Covilhã.

Também Maria Ascensão Vaz Serra gostou muito da primeira iniciativa em que participou fora do Centro de Dia do Pesinho que frequenta desde dezembro último.

De Alcongosta e a viver no CCMP, António Dias Miguel não sabia que a iniciativa «One Billion Rising Solidarity» se destinava a sensibilizar a sociedade pelo fim da violência contra as mulheres. Essa foi a questão menos relevante no estado de alma do nonagenário que gostou muito de “ver toda a gente a abanar-se de um lado para o outro, a mexer. Ainda bem! Fui e gostei muito”, descreveu.

António Dias Miguel

Marina Abrantes é diretora técnica do lar da Misericórdia e do lar Nossa Senhora do Amparo em Aldeia de Joanes, falou-nos do que representou para os utentes daquelas respostas sociais a ida à discoteca. “Para alguns traduziu-se na experiência única de pisar uma discoteca, um ambiente novo e desconhecido para eles, ajudando a clarificar a opinião previamente formada do que é uma discoteca. Depois, esta foi uma oportunidade de recordar algumas canções intemporais”, disse.

Isso mesmo vincou Florentino Lampreia de 80 anos. Gostou “imenso das músicas sul americanas” valorizando a iniciativa que “nos permitiu dar esta passeio e sair do lar” da Misericórdia.