De Sobreira Formosa ao Fundão

Cerca de uma hora de caminho separa Sobreira Formosa no concelho de Proença-a-Nova da cidade do Fundão. Uma e outra localidade têm em comum uma certa ruralidade. Mas foi a missão social das Misericórdias que juntou os dois territórios num intercâmbio cujo epicentro foi a Quinta Pedagógica do Fundão.

A Quinta Pedagógica localiza-se imediatamente à entrada sul da cidade do Fundão e representa o postal de boas vindas da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. A secular Santa Casa do Fundão recebeu no dia 20 de julho a visita de duas dezenas de utentes da Misericórdia de Sobreira Formosa. A instituição particular de solidariedade social tinha boas referências quanto à diversidade das respostas sociais da Santa Casa do Fundão e a diretora técnica Ana Margarida Ribeiro não hesitou em contactar a Misericórdia da “Terra da Cereja”. Cedo percebeu que “Fundão é terra de Coração” e o sentimento de satisfação e divertimento no Fundão foi de tal ordem que no final da visita os visitantes improvisaram um hino de despedida cheio de energia.

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A canção improvisada no dia anterior entusiasmou os convivas e ganhou maior expressão quando chegaram ao Fundão e foram recebidos na Quinta Pedagógica da Misericórdia com um momento de música popular interpretado pelo Coro Sénior da Santa Casa local. A mestria da professora Carla Duarte e o acordeão do trio da Academia de Música e Dança do Fundão liderado pela professora Lurdes Salvado deixaram os cantores séniores e a plateia de garganta afinada e sorriso franco.

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Embora o intercâmbio promovido pela Misericórdia de Sobreira Formosa exista há sete anos, os utentes das várias respostas sociais daquela organização localizada no Pinhal Interior renderam-se às cantigas populares. Domingos Dias Henriques já conhecia o Fundão. Gostou do passeio e de ouvir o coro. “O Fundão é bonito e aqui está fresco”, diz-nos o ancião de chapéu de palha com uma fita do Benfica. A declaração contente de Domingos é corroborada por Adelaide Dias Cardoso de Atalaia do Ruivo. Sentada à beira da casa das brincadeiras em plena área de lazer da Quinta Pedagógica do Fundão confessa-nos: “Gostei muito do coro porque até sabia as cantigas!”. O sentimento de gratidão confunde-se com a surpresa quanto ao espaço onde se iniciam as atividades que ao longo da jornada haverão de levar os “turistas” a outros locais frescos e prazíveis do Fundão. O Parque do Convento, por exemplo!

“No Fundão há muita cereja e num ano destes os meus familiares de Lisboa vieram cá fazer um passeio às cerejeiras em flor”, conta-nos Adília Pires Martins que reside em Sobreira Formosa e sempre ouviu “falar bem” destas terras.

Foi a fama da Quinta Pedagógica do Fundão que aproximou a Misericórdia de Sobreira Formosa da sua congénere na Cova da Beira. Ana Margarida Ribeiro idealizou um regresso ao campo pois sabe como as vivências mais antigas ajudam a renovar a memória da população sénior. E assim aconteceu no périplo pela Quinta. As caturras e periquitos o “lindinho” que é o bode ou a elegante égua Joana iniciaram a “terapia” para os idosos visitantes.

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Rendidos aos encantos da vida no campo e à memória das mais-valias do ar puro, uns e outros trocam palavras de apreço e soltam gargalhadas pela memória dos tempos em que ser jovem significava sachar, regar ou tratar do gado.

Agostinho Dias Delgado veste de negro. Veio ao Fundão para se animar pois ficou viúvo. Em cima da ponte sobre o lago da Quinta Pedagógica observa uma aprendiza de mondadeira e logo acelera o passo e eleva a voz para dizer aos companheiros de visita que há ali monda e que tem de experimentar. Arregaçou as mangas e embora o punho do blusão tivesse pouca margem para subir do pulso ao cotovelo do braço, Agostinho não esteve com mais pormenores. Começou a arrancar as ervas dos morangueiros.

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Satisfeito e com o olhar a reluzir confessa-nos que “toda a vida” trabalhou no campo. “Tenho saudades da horta, mas já não tenho forças”, afirma quem no entanto ainda manifesta curiosidade em concretizar um passeio equestre. “Cheguei a andar de cavalo, sei como é mas já não tenho força”, confessa o bem-disposto utente da Misericórdia de Sobreira Formosa.

O grupo é bastante autónomo e as pessoas que o constituem tiveram variadas ocupações. Felisbela Pereira lembra-se do Portugal no tempo da ditadura de Salazar e orgulha-se de ter sido administrativa no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Recorda a vida em Lisboa e as viagens à Beira Baixa bem como as encomendas de cereja da região. “E quando não vínhamos, havia sempre um colega do Fundão que nos leva as cerejas do Fundão”.

E ainda há cerejas, pergunta Domingos Henriques!

É pouco provável que a comitiva ainda tenha conseguido comprar cerejas do Fundão mas na bagagem para Sobreira Formosa levaram, certamente, as boas recordações de um dia cheios de conversas, experiências e jogos tradicionais.

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O intercâmbio entre organizações também pode acrescentar vida aos anos. Assim será quando os utentes da Misericórdia do Fundão forem à Santa Casa de Sobreira Formosa. Boas práticas!

A Aventura de Trabalhar a Terra

Fomos ao encontro de três jovens estudantes na Escola Profissional do Fundão que realizaram estágios curriculares na Quinta Pedagógica da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

Caíto Djaló tem o mesmo sobrenome de Yannick que foi jogador do Sporting e do Benfica. Um e outro nasceram na Guiné Bissau. Mas o percurso dos dois nunca se cruzou. O jovem Caíto está no Fundão para concluir o ensino secundário e enveredar por uma licenciatura. Já o jogador que vestiu as cores da seleção de Portugal continua a dedicar-se ao desporto e ainda é uma referência do futebol. O jovem Caíto que estagiou na Quinta Pedagógica do Fundão está na região ao abrigo de um protocolo de cooperação entre os municípios do Fundão e de Bissau.

Caito tem 19 anos, reside no Fundão, e tal como Tiago Mendes de 16 anos, que mora em Valverde, concluiu o 10º ano de escolaridade do curso profissional de gestão de ambiente. Faz um balanço “muito bom” de um estágio que lhe permitiu “aprender a sachar, alimentar os animais e aproveitar a alfazema”. Embora o curso lhes ensine a calcular cotas e declives, a fazer escalas e a ler relevos, os estagiários da Escola Profissional do Fundão admitem que a teoria que trazem da aprendizagem não se coaduna com a experiência de um mês de trabalho na Quinta Pedagógica do Fundão. Mas isso não os desmoralizou!

Só o calor e os primeiros dias em que foram convocados a ajudar nos trabalhos agrícolas lhes causaram algum desânimo pois “estava imenso calor” e mondar erva não é, de todo, o forte destes estudantes.

Da aprendizagem na escola retiram a experiência que os ajudou a “identificar o ADN da cereja”, explica Daniela Carvalho de 18 anos e residente em Vale de Prazeres. “Aqui na quinta também aprendi muita coisa que desconhecia. É o caso do nome de algumas plantas e as suas propriedades, às vezes medicinais”.

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E em que medida é que o estágio consolida aprendizagem e acrescenta experiência para o percurso fora da escola?

Daniela afirma que o estágio a ajudou descobrir a dureza da vida no campo. “Nunca pensei que o campo fosse tão duro e admira-me como é que os agricultores conseguem manter-se tanto tempo debaixo de sol e expostos às mudanças climáticas”.

Não sabemos se a gestão do ambiente pode ajudar a melhorar as boas práticas e dinâmicas na Quinta Pedagógica do Fundão mas temos a firme convicção de que os jovens estagiários são portadores de ideias interessantes e capazes de acrescentar valor à programação pedagógica e de laser desta resposta da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. Caíto Djaló sugere a plantação de “mais árvores de fruto, mais animais e mais colaboradores”. “O ciclo da vida nos animais” ou a “recriação das tradições à volta da matança e aproveitamento da carne de porco”, foram outras das sugestões.

Embora tenham gostado de conhecer o mundo rural, quase todos preferem realizar o próximo estágio em contextos diferentes. Caíto tem interesse “na análise e monitorização da água potável”. Mas como já tem alguns conhecimentos em gestão ambiental também gostaria de descobrir o essencial sobre “gestão e acompanhamento de ecopontos”. A gestão de resíduos sólidos urbanos poderá ser uma das linhas de ação no mercado de trabalho destes jovens frequentadores do ensino profissional. Mas nem todos estão decididos a enveredar por essa área. Daniela está determinada em viajar e conhecer outras realidades. Mas também admite vir a ser “bombeira profissional”.

Menos ambicioso é Tiago que pretende elaborar o relatório de estágio, fazer os exames e fazer uma pausa nos estudos.”Quero sair da escola” afirma com convicção o jovem que gosta de “informática”.

Da experiência na Quinta Pedagógica da Misericórdia do Fundão, os estagiários levam as práticas de acompanhamento e assistência aos visitantes, batismo equestre, a prática de jogos tradicionais e os workshops mãos na massa ou de aproveitamento de ervas aromáticas.

Neste dia o grupo de estagiários estava a fazer rocas de alfazema. E havia um suave perfume no ar…..

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Misericórdia Reforça Aposta Agrícola

A Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF) movimenta atualmente cerca de uma centena de hectares de terras espalhadas por vários lugares e quintas localizadas às portas do Fundão.

São hectares de terra povoada de culturas arvenses, forragens, vinha, olival, horticultura – em estufa e ao ar livre-, fruticultura (pereiras, macieiras, cerejeiras e quiwis).

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Enquanto o tomate temporão se deu nas estufas o serôdio criou-se ao ar livre. A alface e a produção diversificada de couve dão maior dinâmica às explorações agrícolas da SCMF.

Mas este também pode ser um tempo em que os homens da lavoura ainda cortam ou amanham as forragens que serão sustento alimentar para animais no próximo Inverno. O calendário e a cadência de intervenções estão definidos, há plantações a acontecer a cada duas semanas.

No conjunto das várias apostas merece destaque a produção de quiwis. Iniciada em 2015 já dá mostras de boa qualidade mas a colheita de grandes quantidades só ocorrerá em 2018, explicou-nos Rui Pombo, coordenador agrícola na Misericórdia fundanense. O pomar de quiwis tem uma área de meio hectare e localiza-se na Nave de Cima (Aldeia de Joanes).

Não muito longe dali é fácil encontrar extensos pomares de macieiras e pereiras. O meloal e os pepinos rastejantes ou os morangos. Deixamos a linha de água, aproximamo-nos da quinta da Panasqueira e o olhar prende-se na verdejante vinha ou nas estufas povoadas de tomateiros e couve coração de boi.

É também nos socalcos da Panasqueira que se encontram os dois hectares e meio de vinha nova cujas castas originarão vinhos branco e tinto. Começou a ser plantada há um ano e “em 2018 dará as primeiras uvas”, garante Rui Pombo.

A nova vinha, orgulha os profissionais de agricultura na SCMF, está equipada com sistema de rega gota a gota e a “aramada alinhada ajudará a orientar a formação e inclinação da vinha”, esclarece o engenheiro agrícola que ainda nos explica que entre “a poda de formação e a frutificação há um intervalo de dois anos”. O tempo necessário para a primeira colheita.

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A aposta da Misericórdia do Fundão na área agrícola acompanha o crescimento e afirmação desta organização social. Uma estratégia que continua a dar bons resultados e que a breve trecho permitirá a plantação, na Pouca Farinha (Valverde), de “aproximadamente dez hectares de olival intensivo” numa das propriedades da SCMF.

Realidade de um trabalho árduo que requer esforço e a obrigação de bem cuidar seja debaixo de chuva ou ao sol. Mas se houver reconhecimento, tudo parece menos difícil.  Merece por isso destaque de rodapé o reconhecimento e prémio atribuídos ao vinho quinta da Arrabôa (2014) que ainda há duas semanas foi medalhado com o grau ouro no X Concurso de Vinhos da Beira Interior.

Gabinete de Ação Social o “coração” da Misericórdia

“O que nos caracteriza e diferencia dos restantes técnicos é termos uma paixão pela terceira idade. Aqui o grande foco são as pessoas”.

Ajudar até ao limite. Esse é o desígnio do Gabinete de Ação Social (GAS) da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF). Foi criado em março de 2002 e é encarado como o “coração da Misericórdia”. O tom afirmativo de Elisabete Reis denota uma pontinha de orgulho corroborado pela restante equipa técnica. Coordenado por Lurdes Silva o GAS caracteriza-se por um percurso que também entusiasma Cristina Guedes e Tânia Batista.

A “procura incessante” de respostas para a multiplicidade de problemas provenientes dos mais variados estratos sociais é a missão da equipa que nas últimas semanas contou com mais um elemento. A estagiária Ana Cristina Cunha que elegeu este serviço da SCMF como escola de aprendizagem prática complementar à teoria assimilada na Escola Superior de Educação. “Há longos anos que a SCMF colabora com várias entidades que escolhem o serviço da ação social para acolhermos estágios curriculares”, contextualiza Lurdes Silva.

 

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A Ação Social está no ADN da Misericórdia, desde sempre. O GAS existe há 15 anos mas antes da constituição deste gabinete importa esclarecer que no âmbito de um Projeto de Luta contra a Pobreza nasceu o CIDES – centro integrado de desenvolvimento social que acumulava a ação social da SCMF e a ação social inerente à luta contra a pobreza. Foi após a conclusão desse projeto que a SCMF constituiu o designado GAS. Esta valência da SCMF chegou a funcionar no edifício do antigo hospital do Fundão, na antiga sede social da Misericórdia e no NAI – núcleo de apoio a idosos. Há pouco mais de um ano mudou-se para a nova sede social da SCMF.

As boas práticas do agora designado GAS vêm de longe e com o passar dos anos ganharam notoriedade ao ponto de “inspirarmos outras entidades”. Aconteceu com a Casa Pia de Lisboa “onde chegamos a ir para dar a conhecer o nosso trabalho”. “Sempre fomos uma instituição modelo”. Outras entidades de natureza social, reconhecendo “as boas práticas de intervenção comunitária”, vieram ao Fundão “beber da nossa experiência”, explica Cristina Guedes.

“No âmbito do Projeto Rodas tínhamos uma unidade técnica que se dedicava à educação parental, pessoal e social. Também desenvolvíamos estudos que posteriormente foram fator preponderante no estabelecimento de parcerias, por exemplo, com a Universidade da Beira Interior que até permitiram recuperar habitações”. “Um modelo que trouxe ao Fundão técnicos do gabinete de ação social do Município de Cascais”, outra das entidades a reconhecer as competências da SCMF.

Orgulhosas do percurso e trabalho feitos, Cristina Guedes e Lurdes Silva quase se atropelam quando recordam os projetos, vitórias e frustrações de uma equipa que foi pioneira na constituição de um gabinete de apoio ao imigrante ou na abertura de uma cantina social. “Também realizámos aqui a primeira comemoração do Dia dos Avós. Estávamos em 2003”.

O entusiasmo é indiscritível quando Elisabete Reis nos fala da permanente cooperação entre entidades, instituições locais e regionais. Um modo de estar que se mantém pois a resposta do GAS ou da RLIS – rede local de intervenção social, que entretanto abriu na SCMF, depende muitas vezes dessa “partilha de meios e serviços”.

É essa cooperação que “nos permite continuar a responder a todas as solicitações de natureza social, salvo o apoio aos imigrantes pois o Município do Fundão dispõe desde há uns anos de um gabinete específico”. “Mesmo assim, quando nos aparece aqui um imigrante nós ajudamo-lo ou encaminhamo-lo para outras respostas”, esclarece Tânia Batista.

“Somos uma instituição modelo”

Embora a nomenclatura das respostas tenha mudado a SCMF continua a oferecer serviços de proximidade à região. “Continuamos a desenvolver as mesmas áreas exceto a formação profissional que existiu no tempo do projeto de luta contra a pobreza. Atualmente também damos formação educacional e parental aos agregados familiares que acompanhamos”, contam-nos as técnicas.

Desafiadas a partilhar com os leitores os momentos mais intensos do GAS ou as frustrações de quem muitas vezes se sente “impotente” para resolver situações em que as pessoas não aceitam ajuda, as técnicas da SCMF começam a desfiar memórias e entusiasmam-se sobremaneira no relato das vivências associadas à imigração.

“Nós chegámos a apoiar aqui russos, ucranianos e moldavos. Também acolhemos brasileiros cuja família conseguimos ajudar a legalizar e até criámos condições para lhe arranjar emprego”, descrevem.

Ao longo dos anos muitos imigrantes refizeram a vida no Fundão graças às intervenções do GAS e ao “acompanhamento de uma equipa multidisciplinar que muito trabalhou para a legalização desses estrangeiros”.

Mas também houve frustrações. Foi o caso de um jovem estudante ucraniano que chegou a estudar musica na Academia de Música e Dança do Fundão (AMDF) mas que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras não conseguiu ajudar a legalizar, obrigando o jovem a regressar a Kiev.

As respostas da SCMF eram de tal forma intensas que, com a ajuda de todos os parceiros e entidades oficiais, “nos permitimos realizar aqui um encontro informal de imigrantes ilegais”. Lurdes Silva recua a 2002 vincando a importância de “fomentar sinergias locais recorrendo até aos professores da AMDF que eram interpretes e muito nos ajudaram a encaminhá-los para aulas de português e posteriormente para os serviços e respostas integradas”.

O apoio aos estrangeiros mantém-se, ainda em 2010 o GAS recebeu e encaminhou para os serviços da SCMF um cidadão francês que foi abandonado e roubado em Portugal e escolheu refazer a vida no Fundão. “Hoje em dia continua a ocupar muito do seu tempo no nosso centro de dia onde lhe servimos as refeições”, confirma Elisabete Reis.

A relação do GAS com a imigração é atualmente sazonal e prende-se com a época de colheita da cereja no Fundão. “Muitas dessas pessoas chegam para a apanha da cereja vêm ao GAS solicitar respostas e apoios para as refeições”.

“O GAS é transversal a toda a Misericórdia”

Instalado no primeiro piso da sede da SCMF ao pé da Quinta Pedagógica do Fundão o GAS que “é transversal a toda a instituição” recebe diariamente dezenas de pessoas que pretendem “inscrever-se” nos lares, centros de dia ou solicitar apoio domiciliário.

Um trabalho intenso e diversificado pois cada “pessoa tem uma história para a qual criamos uma resposta integrada e individual”, esclarece Lurdes Silva.

Na sala com vistas para a Quinta Pedagógica e para a Gardunha a beleza da paisagem nem sempre é suficientemente inspiradora para agilizar respostas pois “somos deficitários” em número de camas e em vagas até para centro de dia.

De acordo com Lurdes Silva, “só em algumas respostas”, nas aldeias, é possível encontrar vagas em centro de dia uma vez que “no Fundão não temos capacidade para acolher mais utentes”. Uma dificuldade que se acentua nas Estruturas Residenciais para Idosos onde “precisamos igualmente de mais camas” e nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) de média e longa duração.

“A nossa maior frustração é percebermos que não respondemos em tempo útil” às solicitações de quem envelhece, fica sozinho ou tantas vezes tem alta hospitalar e não tem família. Lurdes Silva aponta o dedo ao Estado que “não abre novos acordos de cooperação” com as entidades sociais que tantas vezes se substituem à família acolhendo e cuidando de quem precisa, de um lar ou UCCI e esbarra na “falta de espaço” ou na indisponibilidade do Estado para financiar novas respostas.

“Ajudamos até ao limite”

No GAS “tocamos em todas as valências” da SCMF. De forma direta ou indireta “estamos em contacto permanente” com o exterior, “continuamos a fazer visitas domiciliárias, agilizamos intervenções de natureza institucional, acionamos outros colegas sempre em prol das pessoas e da comunidade”, explicam.

Um trabalho multidisciplinar que também se realiza em contexto institucional pois a SCMF integra o Centro Local de Ação Social. Exemplo deste trabalho é a disponibilidade de afetação das técnicas Tânia Batista e Lurdes Silva para projetos na área da intervenção social como a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco e a Comissão Municipal de Proteção à Pessoa Idosa do Fundão.

Mas a abrangência social da SCMF estende-se ao concelho da Covilhã e nesse sentido è habitual que também as forças vivas daquele território procurem o GAS para perceber das “ofertas e serviços de apoio a pessoas carenciadas, doentes ou dependentes”.

A cantina social, a inscrição nas hortas sociais ou o apoio pontual a carenciados, traduzido no “pagamento de água, luz, transportes” são assuntos igualmente trados no GAS onde “ajudamos até ao limite”. Mas “nem sempre somos acompanhados pelas restantes entidades”, explica Lurdes Silva aludindo à falta de mais legislação que ajude a solucionar dificuldades “por exemplo, nos casos das pessoas semi-dependentes”.

E aqui entra a história de duas irmãs do Fundão que há 15 anos se cruzaram a primeira vez com o GAS. De então para cá, por diversas vezes e em diferentes circunstâncias “temos ajudado mas a nossa determinação  nem sempre é suficiente pois impera a vontade própria” das utentes.

A coordenadora do GAS admite que “a missão de servir pessoas nem sempre é fácil” e que muitas vezes “o mais rápido seria descartar” ou encaminhar para outras instâncias algumas das solicitações. Porém “é enriquecedor esforçarmo-nos para ajudar”, conclui.

A determinação e empenho que caracterizam o trabalho do GAS permitiram à SCMF acolher outras respostas nomeadamente para vítimas de violência doméstica e outros casos mais agudos. “Houve um tempo em que ao abrigo de um protocolo distrital acolhíamos, no lar da Misericórdia, vítimas de violência doméstica”, explica Tânia Batista.

Relatos na primeira pessoa por parte de quem ocupa o tempo de serviço entre o GAS e o trabalho externo que muitas vezes é realizado nos centros de dia da SCMF, nas visitas surpresa e de apoio domiciliário ou na celebração de datas festivas, junto de utentes e colaboradores de todas as estruturas de apoio a idosos na SCMF.

Além do trabalho burocrático e de aconselhamento a pessoas, não raras vezes as técnicas do GAS arregaçam as mangas e criam lembranças que mais tarde serão mimo para as centenas de utentes cujas vidas se cruzam e redesenham nos dossiers e ficheiros excel no GAS.

Mas na SCMF as pessoas não são números e por essa razão “os utentes estão sempre em primeiro lugar”.