De Sobreira Formosa ao Fundão

Cerca de uma hora de caminho separa Sobreira Formosa no concelho de Proença-a-Nova da cidade do Fundão. Uma e outra localidade têm em comum uma certa ruralidade. Mas foi a missão social das Misericórdias que juntou os dois territórios num intercâmbio cujo epicentro foi a Quinta Pedagógica do Fundão.

A Quinta Pedagógica localiza-se imediatamente à entrada sul da cidade do Fundão e representa o postal de boas vindas da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. A secular Santa Casa do Fundão recebeu no dia 20 de julho a visita de duas dezenas de utentes da Misericórdia de Sobreira Formosa. A instituição particular de solidariedade social tinha boas referências quanto à diversidade das respostas sociais da Santa Casa do Fundão e a diretora técnica Ana Margarida Ribeiro não hesitou em contactar a Misericórdia da “Terra da Cereja”. Cedo percebeu que “Fundão é terra de Coração” e o sentimento de satisfação e divertimento no Fundão foi de tal ordem que no final da visita os visitantes improvisaram um hino de despedida cheio de energia.

DSC_0197

A canção improvisada no dia anterior entusiasmou os convivas e ganhou maior expressão quando chegaram ao Fundão e foram recebidos na Quinta Pedagógica da Misericórdia com um momento de música popular interpretado pelo Coro Sénior da Santa Casa local. A mestria da professora Carla Duarte e o acordeão do trio da Academia de Música e Dança do Fundão liderado pela professora Lurdes Salvado deixaram os cantores séniores e a plateia de garganta afinada e sorriso franco.

DSC_0050

Embora o intercâmbio promovido pela Misericórdia de Sobreira Formosa exista há sete anos, os utentes das várias respostas sociais daquela organização localizada no Pinhal Interior renderam-se às cantigas populares. Domingos Dias Henriques já conhecia o Fundão. Gostou do passeio e de ouvir o coro. “O Fundão é bonito e aqui está fresco”, diz-nos o ancião de chapéu de palha com uma fita do Benfica. A declaração contente de Domingos é corroborada por Adelaide Dias Cardoso de Atalaia do Ruivo. Sentada à beira da casa das brincadeiras em plena área de lazer da Quinta Pedagógica do Fundão confessa-nos: “Gostei muito do coro porque até sabia as cantigas!”. O sentimento de gratidão confunde-se com a surpresa quanto ao espaço onde se iniciam as atividades que ao longo da jornada haverão de levar os “turistas” a outros locais frescos e prazíveis do Fundão. O Parque do Convento, por exemplo!

“No Fundão há muita cereja e num ano destes os meus familiares de Lisboa vieram cá fazer um passeio às cerejeiras em flor”, conta-nos Adília Pires Martins que reside em Sobreira Formosa e sempre ouviu “falar bem” destas terras.

Foi a fama da Quinta Pedagógica do Fundão que aproximou a Misericórdia de Sobreira Formosa da sua congénere na Cova da Beira. Ana Margarida Ribeiro idealizou um regresso ao campo pois sabe como as vivências mais antigas ajudam a renovar a memória da população sénior. E assim aconteceu no périplo pela Quinta. As caturras e periquitos o “lindinho” que é o bode ou a elegante égua Joana iniciaram a “terapia” para os idosos visitantes.

DSC_0084

Rendidos aos encantos da vida no campo e à memória das mais-valias do ar puro, uns e outros trocam palavras de apreço e soltam gargalhadas pela memória dos tempos em que ser jovem significava sachar, regar ou tratar do gado.

Agostinho Dias Delgado veste de negro. Veio ao Fundão para se animar pois ficou viúvo. Em cima da ponte sobre o lago da Quinta Pedagógica observa uma aprendiza de mondadeira e logo acelera o passo e eleva a voz para dizer aos companheiros de visita que há ali monda e que tem de experimentar. Arregaçou as mangas e embora o punho do blusão tivesse pouca margem para subir do pulso ao cotovelo do braço, Agostinho não esteve com mais pormenores. Começou a arrancar as ervas dos morangueiros.

DSC_0132

Satisfeito e com o olhar a reluzir confessa-nos que “toda a vida” trabalhou no campo. “Tenho saudades da horta, mas já não tenho forças”, afirma quem no entanto ainda manifesta curiosidade em concretizar um passeio equestre. “Cheguei a andar de cavalo, sei como é mas já não tenho força”, confessa o bem-disposto utente da Misericórdia de Sobreira Formosa.

O grupo é bastante autónomo e as pessoas que o constituem tiveram variadas ocupações. Felisbela Pereira lembra-se do Portugal no tempo da ditadura de Salazar e orgulha-se de ter sido administrativa no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Recorda a vida em Lisboa e as viagens à Beira Baixa bem como as encomendas de cereja da região. “E quando não vínhamos, havia sempre um colega do Fundão que nos leva as cerejas do Fundão”.

E ainda há cerejas, pergunta Domingos Henriques!

É pouco provável que a comitiva ainda tenha conseguido comprar cerejas do Fundão mas na bagagem para Sobreira Formosa levaram, certamente, as boas recordações de um dia cheios de conversas, experiências e jogos tradicionais.

DSC_0142

O intercâmbio entre organizações também pode acrescentar vida aos anos. Assim será quando os utentes da Misericórdia do Fundão forem à Santa Casa de Sobreira Formosa. Boas práticas!

Deixe um comentário