Viver a Quinta com o Fundão no Coração

“Mantenham este espaço sempre assim. Equilibrado, diversificado e cheio de experiências”. O conselho é simultaneamente um elogio e foi registado na tarde de 19 de julho na Quinta Pedagógica do Fundão. As palavras são da líder de um grupo de escuteiros de Mira Sintra. Quando o litoral vem ao interior é sempre uma festa. E se as pessoas oriundas da metrópole trouxerem a Beira no coração, então isso enche-nos de orgulho. Faz-nos crer que vale a pena continuar a acreditar nas potencialidades do território capaz de cativar turistas de todas as latitudes. O grupo de crianças dos sete aos treze anos, divide-se entre lobitos e exploradores do Agrupamento de Escuteiros de Mira Sintra. Estão acantonados no Campo Escutista da Gardunha e dedicaram a jornada à descoberta da Quinta Pedagógica da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

A atividade iniciou-se com a habitual visita guiada ao pomar, horta, jardim das aromáticas e animais da Quinta. Depois do almoço na pérgula, a seguir às corridas e voltas no baloiço e à descoberta da casa do parque das brincadeiras, decorreu o atelier “mãos na massa” com direito a pães de chouriço personalizados. Estender a massa, envolve-la com azeite, colocar uma pitada a mais de farinha, recheá-la com chouriço e enrolar a massa é obra de mestre pasteleiro mas as crianças desempenharam a tarefa na perfeição. Os pães de chouriço deixam-nos com água na boca.

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Seguiu-se o atelier de rocas de alfazema. A roca é uma espécie de cápsula que guarda as flores e sementes de uma erva aromática. As crianças colheram ramos de alfazema, uma a uma transformaram a planta em roca elegante e intensamente aromatizada. O cheiro a alfazema que nesta altura povoa os canteiros da Quinta está agora guardado na roca que posteriormente pode ser colocada nas gavetas e armários lá de casa por forma a perfumar a roupa, evitando que as traças se apoderem do vestuário.

Curiosidades apreendidas pela criançada que veio da Mira – Sintra à Beira Baixa para conhecer a terra da cereja, usos e tradições da paisagem poética de Eugénio de Andrade ou passear pelos campos de trigo que inspiraram a poesia de Albano Martins.

Algumas das crianças já tinham ouvido falar do Fundão, outras já vieram à região no tempo da neve e das cerejeiras em flor. No grupo também estavam netos de fundanenses e beirões por afinidade a Monsanto – a aldeia mais portuguesa de Portugal à qual os anos 90 do século XX  juntaram o título de Aldeia Histórica de Portugal.

Martim Raposo de oito anos é neto de Maria Emília e António da Conceição e já nestas férias grandes tinha estado no Fundão. Nunca tinha visitado a Quinta Pedagógica mas gostou da experiência pois “isto é muito giro”. Gabriel Baptista tem nove anos, veio de Massamá e acrescenta que o Fundão simboliza “alegria, amizade, animais e novas aprendizagens e experiências”.

Leonor Sousa tem a mesma idade mas veio de Rio de Mouro e costuma visitar com frequência. “Pelo menos duas vezes por ano. Na Páscoa e no Verão”, acrescenta a mãe, Carla Joaquim, que tem os pais em Monsanto. A pequena Leonor vinca a mais-valia do acampamento no sopé da serra da Gardunha. “O campo escutista da Gardunha é muito fixe e na Quinta gostei de tudo”. A mãe que gosta de voltar às origens lembra-nos que aqui “faltam oportunidades, trabalho e novos incentivos”.

A conversa flui e há quem recorde a luta dos locais pela isenção de portagens na principal via de acesso da Beira Interior ao Litoral e à vizinha Espanha. Trocam-se opiniões e ficamos com a sensação de que para os turistas oriundos da região de Lisboa passou despercebido o Conselho de Ministros extraordinário que a partir de Pampilhosa da Serra reviu o Programa de Valorização do Interior.

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A clarividência não merece surpresa. É que além de Leonor Sousa também os restantes monitores e responsáveis pelo grupo de escuteiros de Mira Sintra já estão habituados aos anúncios de medidas cujo impacto é questionável. “Veja-se o caso da diminuição de vagas para o ensino superior em Lisboa e no Porto! Em termos reais as vagas passaram a estar disponíveis em Aveiro e Braga”, lamentou outro dos dirigentes habituados ao ceticismo de quem resiste à falta de empresas e empregos no Interior.

Mas voltando à alegria da criançada que fez 300 quilómetros para vir à descoberta do Fundão. Susana Victorino tem nove anos e no regresso a Mira Sintra levará na bagagem a aprendizagem na Quinta Pedagógica do Fundão. “Aqui encanta-me a paisagem e a diversidade de plantas e animais” que povoam o espaço inaugurado há três anos.

E neste espaço de visitação também se pode andar de burro. Foi o que fizeram as crianças de um Centro de Aprendizagem em Alcains que, nessa quinta-feira de julho, também visitavam a Quinta. Leonor Serraninho de nove anos descreveu o passeio como “uma boa experiência” capaz de deixar a nu a docilidade do jumento que “sabe comportar-se com pessoas em cima dele”, acrescenta Matilde Afonso de dez anos. “Foi um passeio tranquilo e o burro é meigo”, sintetiza.

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A Quinta Pedagógica do Fundão recebe frequentemente visitas de estudo de escolas e centros de tempos livres, lares e centros de dia. O espaço de dois hectares é procurado para aulas práticas de ciências da natureza, experiências e contacto com a vida no campo.

Por ali também é habitual decorrerem eventos regionais e concelhios. Recentemente, o celeiro da Quinta (espaço fechado recheado de alfaias agrícolas e outras antiguidades associadas à lavoura) acolheu uma formação para cães de companhia e intervenção social. No dia 29 de julho terá lugar, nesse mesmo espaço verdejante e convidativo, a comemoração concelhia do Dia dos Avós.

Visita Poética

Foi uma visita poética e povoada de acordes musicais aquela que os estudantes do Agrupamento de Escolas do Fundão (AEF) realizaram ao lar da Misericórdia no dia 11 de abril de 2018. O grupo de alunos da disciplina de português fez-se acompanhar da professora Cesaltina Neves.  Em conjunto demonstraram que sendo alunos de ciências e tecnologia não significa que não cultivem o gosto pela poesia.

A celebração do Dia Mundial da Poesia foi, aliás, a motivação para a visita surpresa. Contudo a mesma ocorreu muitos dias depois do 21 de março, data da efeméride.

Mas o que realmente importa é partilhar com os leitores de “Santos da Casa” a entrega e sentimento de amizade que caracterizou o encontro com a poesia naquela resposta da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF).

Nem só de versos se fez a tarde pois os alunos António Antunes, Laura Almeida, Alexandra Costa e Sara Martins quiseram enriquecer a sessão poética com música e canções.

Foi o caso de “no teu poema” de José Luís Tinoco celebrizado por interpretações na voz de Carlos do Carmo ou Simone de Oliveira.

Uma plateia constituída por pessoas de várias idades rendeu-se, então, à magia dos poemas polvilhados pela melodia de jovens estudantes de música na Academia de Música e Dança do Fundão, que é outra das respostas da SCMF.

Foi uma tarde essencialmente dedicada ao poeta Eugénio de Andrade que nasceu em Póvoa de Atalaia e cuja obra literária preenche o gosto de inúmeros leitores.

Soltaram-se as vozes que o leram e partilharam com os seniores da SCMF “as palavras”, o “poema à mãe” ou “adeus”.

Adeus terá sido dos poemas que mais disse aos seniores!

Ora leiam o que escreveu Eugénio de Andrade e vejam se não combina com o público que assistiu à sessão poética.

“Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. (…)”

O poema de Eugénio continua…

A sessão com estudantes do 11º e 12º ano de escolaridade também durou mais um tempo. O necessário para outras partilhas: a entrega de lembranças (marcadores de livros) feitas pelos utentes do lar da Misericórdia e um caderno de poemas da autoria de António Xavier Santos e Florentino Nunes Lampreia.

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Os escritores da SCMF brindaram a juventude do AEF com uma visão poética do Fundão e da serra da Gardunha onde a beleza da Primavera inspirou as quadras de Florentino Lampreia.

“Primavera Bonita,

Os seus lençóis cheios de Flores,

Todas elas perfumadas,

Com aromas e muitas cores.

Mas quando chega o Verão,

Da Primavera não há nada,

Mas há, erva seca,

Mas que seca! (…)”

Aquela tarde de abril foi tudo menos seca.

E quando o momento foi para ouvir o poema “é a nossa serra”,  de António Xavier, carinhosamente tratado por UPA … !

“ O Fundão tem boas cerejas,

Que geram muita riqueza,

Umas são pretas, outras vermelhas,

Dão à Gardunha outra beleza.

(…)

Da cidade ela é o pulmão

O povo a protege e trata dela,

Quando chega o calor do Verão,

Alguém fica a vigiar toda ela (…)”

Os estudantes do AEF não ficaram a vigiar a população institucionalizada no lar da Misericórdia mas, certamente, tão depressa não esquecerão os rostos de alegria e surpresa estampada no rosto de quem vive paredes meias com a solidão. Os jovens contactaram com um conjunto de pessoas que atenuam as fragilidades da idade nos momentos de partilha e vivências que acrescentam vida aos anos.

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O Desporto como Bálsamo para Seniores

“Não há idade para descobrir o golfe”. A frase foi dita por Fernando Dias Ferreira, utente da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF), na edição de 2018 das Olimpíadas Seniores que o Centro Comunitário das Lameiras organizou na vila de Silvares (Fundão).

Fernando fez parte de um grupo de seniores institucionalizados em dois dos lares e centros de dia da SCMF que aceitaram o desafio das animadoras socio culturais e quiseram participar num convívio desportivo onde estiveram outros duzentos seniores dos concelhos do Fundão, Covilhã e Pampilhosa da Serra.

Além de Fernando, ouvimos Fernanda Almeida que vincou a mais-valia do “convívio e distração” entre pares evitando “rotinas e o pensamento constante nas doenças”.

Uma opinião partilhada por Silvina Jorge. “Já sou repetente aqui nas olimpíadas e o ano passado ganhei no minigolfe”, contou a utente do centro de dia do Fundão.

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Além do minigolfe, houve bowling, captura de bolas, malha numérica e um mini circuito para cadeira de rodas pois a inclusão é uma das diretrizes das Olimpíadas que desta vez reuniram duas dezenas de instituições particulares de solidariedade social (IPSS).

Não é a primeira vez que ocorrem iniciativas desta dimensão e natureza. Constatando este facto comprovado pela forte adesão das IPSS, importa lembrar que também na SCMF fomos pioneiros na realização de encontros que assinalam o Dia dos Avós ou a comemoração do Dia Mundial da Terceira Idade.

Seja como for a relevância destes encontros assenta na possibilidade de seniores institucionalizados em IPSS de várias geografias poderem conhecer-se e estimular a partilha ou a comunhão do conhecimento de tradições, da oralidade e até das vivências entre pares.

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Veja-se o caso da comemoração do Dia de São Martinho que no caso da SCMF tem possibilitado o convívio entre utentes das mais variadas respostas da Instituição espalhadas por várias freguesias dos concelhos do Fundão e da Covilhã.

Uma vez aqui chegados importa continuar a desenvolver projetos que aproximem pessoas e territórios vincadamente caracterizados pelo despovoamento.

De cada vez que os seniores se juntam abre-se uma janela para a memória, derrubam-se fronteiras e promovem-se sorrisos rasgados tantas vezes polvilhados de abraços, danças e outros ritmos que promovem o envelhecimento ativo e acrescentam vida aos anos.

Parabéns à organização das Olimpíadas Seniores e às IPSS que travam a desertificação humana.

Enquanto as nossas aldeias continuarem a ter respostas sociais que permitam a permanência das suas gentes nessas terras, estaremos todos a lutar contra o despovoamento do território.

Memória e Tradições na Quinta Pedagógica do Fundão

Manuel, Maria do Carmo, Vítor Ângelo e Horácio. São do Telhado e arredores, no concelho do Fundão. Encontrei-os na segunda-feira da Semana Santa na Quinta Pedagógica da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. Estavam integrados num grupo de seniores do TECTO – Centro Social do Telhado e vieram ao encontro da vida no campo.

A visita temática começou com a redescoberta da horta. As favas, os alhos e as ervilhas já despontam no solo bastante encharcado pelas chuvas das últimas semanas. E ainda bem que choveu! A Quinta está mais verde e o calendário Primaveril, ao qual está associada a beleza ímpar das flores, faz daquelas paragens um lugar mágico e cheio de cor.

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O grupo fixou-se nos canteiros das ervas aromáticas e no jardim dos chás. A erva do caril, alfazema, alecrim, rosmaninho, valeriana, hortelã e rosmaninho estão a rebentar e os canteiros verdejantes acrescentam vida à Quinta. Até ao fim da Primavera também a urze e a carqueja que vieram da serra da Estrela deverão povoar o campo na cidade.

A visita guiada prossegue e a comitiva encanta-se no contacto com os animais. E se a égua e o pónei são contemplados pela beleza que os caracteriza, o burro ou o bode, a cabra e as ovelhas remetem os convivas para a memória da vida no campo. A agricultura de subsistência, o pastoreio, o leite e os queijos cabreiros. O burro como meio de transporte de molhos de lenha e sementes.

Manuel Monteiro dos Santos não cabe em si de contente, abeira-se de mim e recorda-me a fazenda onde muito cultivou e semeou. “Agora está tudo ao abandono, as minhas filhas estão em Coimbra e na Covilhã, não vêm buscar o pouco que ainda cultivamos. Eu a Minha temos pena, mas as portagens e a gasolina pesam muito na carteira”, conta o utente do Centro Social do Telhado.

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Maria Manuela do Carmo Alves também quer falar da horta e da vida no campo. Mas a conversa demora pouco, pois o momento é para observar quem participa no workshop mãos na massa. A dinâmica decorre no celeiro da Quinta, o forno a lenha está ocupado com as várias fornadas de pão e bolos da Páscoa que por estes dias preenchem a padeira.

À volta da mesa comprida cerca de duas dezenas de pessoas polvilham a massa, esticam-na e recheiam-na com chouriço. Não há mulher que não opine ou recorde o ofício e as tradições das aldeias quando na Semana Santa os fornos comunitários se enchiam de pessoas para fazer “bolo doce, bolo de sementes” e outras doçarias da Páscoa.

Maria do Carmo Ramos da Costa, natural de Aldeia Nova do Cabo, já aforrou as mangas e demonstra como uma massa bem esticada pode fazer a diferença. Prepara-a, recheia-a com o chouriço. Enrola-a e salpica-a com farinha. “Se o forno estiver muito quente, não queima o produto”, explica quem já perdeu a conta às fornadas de pão e bolos. “Sou do tempo das picas de azeite”, conta-nos!

“E do tempo das bolas de bacalhau com couve”, acrescenta Vítor Martins Ângelo que vive no Telhado e quando se desloca ao mercado do Fundão gosta de ir à Tasca da Estação comer uma sandes de bacalhau. “Sou fiel, é um bom petisco, lá ao pé da estação vendem as melhores sandes de bacalhau”, vinca o antigo motorista da Carris.

E o workshop continua. As conversas fluem e as animadoras do Centro Social do Telhado explicam-nos que a renitência inicial de alguns dos participantes quanto à capacidade de fazer pão e bolos caiu por terra no mesmo instante em que meteram as mão na massa.

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Foi um “treino de mãos e músculos” para o dia em que lá na IPSS do Telhado voltarão a arregaçar as mãos para fazerem os bolos de Páscoa.

É assim a vida na Quinta Pedagógica do Fundão. Espaço multifacetado para crianças, jovens, adultos e idosos que se deslocam ao empreendimento localizado no centro da cidade do Fundão para aprenderem como é vida no campo, descobrirem a fauna e a flora ou recordarem tempos idos.

O Canto como um Sopro de Vida

São cerca de duas dúzias de idosos e reúnem-se uma vez por semana no auditório da Academia de Música e Dança do Fundão (AMDF). Vêm de lares e centros de dia da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF) e partilham o gosto pelas canções.

O projeto iniciou-se em 2015 com o objetivo de capacitar as respostas sociais de apoio aos séniores na concretização de renovadas dinâmicas e estímulos que promovam a longevidade.

Não é novidade a existência de estudos académicos que atestam as mais-valias do reencontro das pessoas de mais idade com o património imaterial da música e das tradições. Nesse contexto a SCMF aproveitou as competências do corpo docente da AMDF e lançou o Coro Sénior da Instituição.DSC_0015

Todas as semanas uma professora de música e canto entrega-se ao piano e desafia as coralistas e escolherem o reportório de que mais gostam. Os homens também dão uma ajuda. Embora sejam em menor número também dão achegas quanto a temas populares e intemporais ou juntando o timbre mais forte a um registo em que a interpretação de conjunto é, às vezes, enriquecida com solos e segundas vozes.

No outro dia o reportório do ensaio contemplava a interpretação de uma canção popular alentejana e Florentino Lampreia, que é de Mértola  mas está institucionalizado numa das respostas sociais da SCMF,  fazia um solo no tema “Meu Lírio Roxo do Campo”.

A música que chegou a fazer parte do reportório da cantora luso descendente Linda de Suza  não é das mais fáceis de interpretar mas Florentino entrega-se à letra, embebecido pelo espírito de uma declaração de amor e de boas-vindas à Primavera.

 

Mais conhecido mas não menos difícil de interpretar é o tema “Verdes são os Campos”. Um poema de Luís de Camões tantas vezes interpretado por José Afonso. Zéca Afonso é o artista em destaque nesta temporada do Coro Sénior da SCMF e ninguém fica indiferente à alma do malogrado cantor de intervenção.

Ao mesmo tempo que a professora Carla Duarte estimula os coralistas a acertarem o timbre ao piano eis que o calendário os faz lembrar de abril e das canções da revolução. Daí até ao hino Grândola Vila Morena a distância é curta e na memória daquelas pessoas está o 25 de abril de 1974 e a importância do hino do movimento das forças armadas no golpe de Estado.

Trocam-se opiniões, ouvem-se vozes e há quem manifeste o desejo de interpretar o hino do movimento das forças armadas na próxima sessão solene evocativa do 25 de Abril no Fundão. A ideia agrada sobremaneira à professora que logo ali começa a idealizar a orquestração com outros músicos da AMDF.

Este é apenas um exemplo do efeito do grupo coral nas reminiscências geradas pelas canções antigas e como as mesmas influenciam a qualidade de vida destas pessoas.

A memória, socialização e bem-estar estão, pois, associadas à perseverança e longevidade dos séniores da SCMF que participam nas dinâmicas de grupo em que a alegria e a música são o elo mais forte. Basta ver o entusiasmo de todos !

Albertina Amélia é uma dessas vozes e a inspiração e bem-estar permitiram-lhe criar uma letra que é um hino à SCMF. A letra e música ouviram-se pela primeira vez em maio de 2015 aquando da inauguração da Quinta Pedagógica do Fundão e na presença da então Ministra da Agricultura Assunção Cristas.

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Albertina lembra-se bem da responsabilidade e ainda tem algumas quadras na ponta da língua. Portadora de boas memórias, Albertina também é capaz de enumerar todos os momentos altos do percurso do Coro Sénior.

Três anos após a constituição do grupo coral sabe-lhes bem recordar que já aturaram em vários palcos no Fundão, Minas da Panasqueira e Donas. “Uma vez atuámos na igreja com os estudantes da Academia”, diz Albertina Amélia referindo-se ao “Concerto Gerações” que reuniu dezenas de séniores , jovens e crianças numa viagem pela canções tradicionais.

É o caso de “Maria Faia” do grande Zéca Afonso. Está no reportório que por estes dias se trabalha por forma a garantir que o tema, que tanto entusiasma o grupo, fará parte das atuações do Coro Sénior previstas para a próxima Primavera e Verão. “Brevemente haverá uma audição com a classe de acordeão”, garante a maestrina Carla Duarte.

 

Amizade à Volta das Castanhas

Dezenas de seniores, jovens e crianças reuniram-se na Quinta Pedagógica do Fundão para o magusto que juntou os Lares Nossa Senhora de Fátima (Fundão), São Sebastião (Capinha) e os Centros de Dia do Fundão, Alcongosta, Pero Viseu e Capinha. Um encontro de várias respostas sociais da Santa Casa da MIsericórdia do Fundão (SCMF) em que também estiveram os jovens e crianças do CATL – Centro de Atividades e Tempos Livres e Jardim-de-Infância.

E foi emotivo vê-los a contemplar a fogueira onde saltitavam as castanhas ou ouvi-los a comentar as corridas da juventude. “Tanta juventude, o futuro!”, observou  um dos utentes do Centro de Dia de Pero Viseu.

António Henriques Duarte tem 97 anos e mal chega à Quinta Pedagógica reconhece um utente do Centro de Dia de Capinha com quem se havia cruzado no encontro que semanas antes assinalara o Dia Mundial da Terceira Idade no lar da Misericórdia. José Moura Freire de 96 anos também ali está e não esconde a alegria de participar em mais um convívio. Sobretudo pelo reencontro! O aperto de mão entre os dois utentes da SCMF é observado por Américo de Jesus Adolfo. Aquele utente é natural de Castelo Novo e no dia do convívio frequentava a Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) da SCMF.

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Encontramo-lo pela segunda vez em pouco tempo numa atividade que lhe deu gosto observar. Semanas antes o senhor Américo encantou-se com as dinâmicas à volta da atividade multissensorial realizada no celeiro da Quinta Pedagógica e no dia do magusto, confessou-nos estar imensamente contente com os cuidados que lhe dão na UCCI. “Só trabalha quem não sabe fazer mais nada. O coração já não me pede trabalho”, prossegue o antigo produtor de castanhas no souto de Castelo Novo. “Tinha as melhores castanhas da região e vendia-as todas. Muitas ficavam logo na Póvoa e Atalaia. Eram de várias qualidades e os anos eram quase sempre de boa colheita. Um ano bom significava cem sacas de quarenta quilos”, explica-nos o senhor Américo. Do alto dos seus 80 anos conta-nos que é a primeira vez que está doente.

O convívio promovido pelo larDSC_0020 Nossa Senhora de Fátima juntou utentes de várias respostas sociais da SCMF . Albertina da Piedade de 90 anos veio do Centro de Dia de Alcongosta onde está há relativamente pouco tempo e vinca que estar no magusto da Quinta Pedagógica do Fundão significa “estar a comer as melhores castanhas” daquele Outono.

Na tertúlia improvisada percebe-se a alegria da senhora Albertina que verbaliza o acolhimento e atenção profundas das restantes pessoas que frequentam o Centro de Dia de Alcongosta e das colaboradoras da SCMF que não “me deixam faltar nada”.

Enquanto a conversa ganha maior entusiasmo chegam as crianças do CATL e Leonor do Rosário Soares que também vem de Alcongosta fica impressionada com tanta energia. “Tudo quanto é pequenino é lindo, que alegria ver aqui tanta criança!”.

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Não sabemos se a dimensão humana de uma organização se avalia pelo número de pessoas que serve mas na SCMF o magusto na Quinta Pedagógica que juntou várias gerações de pessoas é reveladora da dimensão humana de uma obra que vai muito além do Fundão.

De Sobreira Formosa ao Fundão

Cerca de uma hora de caminho separa Sobreira Formosa no concelho de Proença-a-Nova da cidade do Fundão. Uma e outra localidade têm em comum uma certa ruralidade. Mas foi a missão social das Misericórdias que juntou os dois territórios num intercâmbio cujo epicentro foi a Quinta Pedagógica do Fundão.

A Quinta Pedagógica localiza-se imediatamente à entrada sul da cidade do Fundão e representa o postal de boas vindas da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. A secular Santa Casa do Fundão recebeu no dia 20 de julho a visita de duas dezenas de utentes da Misericórdia de Sobreira Formosa. A instituição particular de solidariedade social tinha boas referências quanto à diversidade das respostas sociais da Santa Casa do Fundão e a diretora técnica Ana Margarida Ribeiro não hesitou em contactar a Misericórdia da “Terra da Cereja”. Cedo percebeu que “Fundão é terra de Coração” e o sentimento de satisfação e divertimento no Fundão foi de tal ordem que no final da visita os visitantes improvisaram um hino de despedida cheio de energia.

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A canção improvisada no dia anterior entusiasmou os convivas e ganhou maior expressão quando chegaram ao Fundão e foram recebidos na Quinta Pedagógica da Misericórdia com um momento de música popular interpretado pelo Coro Sénior da Santa Casa local. A mestria da professora Carla Duarte e o acordeão do trio da Academia de Música e Dança do Fundão liderado pela professora Lurdes Salvado deixaram os cantores séniores e a plateia de garganta afinada e sorriso franco.

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Embora o intercâmbio promovido pela Misericórdia de Sobreira Formosa exista há sete anos, os utentes das várias respostas sociais daquela organização localizada no Pinhal Interior renderam-se às cantigas populares. Domingos Dias Henriques já conhecia o Fundão. Gostou do passeio e de ouvir o coro. “O Fundão é bonito e aqui está fresco”, diz-nos o ancião de chapéu de palha com uma fita do Benfica. A declaração contente de Domingos é corroborada por Adelaide Dias Cardoso de Atalaia do Ruivo. Sentada à beira da casa das brincadeiras em plena área de lazer da Quinta Pedagógica do Fundão confessa-nos: “Gostei muito do coro porque até sabia as cantigas!”. O sentimento de gratidão confunde-se com a surpresa quanto ao espaço onde se iniciam as atividades que ao longo da jornada haverão de levar os “turistas” a outros locais frescos e prazíveis do Fundão. O Parque do Convento, por exemplo!

“No Fundão há muita cereja e num ano destes os meus familiares de Lisboa vieram cá fazer um passeio às cerejeiras em flor”, conta-nos Adília Pires Martins que reside em Sobreira Formosa e sempre ouviu “falar bem” destas terras.

Foi a fama da Quinta Pedagógica do Fundão que aproximou a Misericórdia de Sobreira Formosa da sua congénere na Cova da Beira. Ana Margarida Ribeiro idealizou um regresso ao campo pois sabe como as vivências mais antigas ajudam a renovar a memória da população sénior. E assim aconteceu no périplo pela Quinta. As caturras e periquitos o “lindinho” que é o bode ou a elegante égua Joana iniciaram a “terapia” para os idosos visitantes.

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Rendidos aos encantos da vida no campo e à memória das mais-valias do ar puro, uns e outros trocam palavras de apreço e soltam gargalhadas pela memória dos tempos em que ser jovem significava sachar, regar ou tratar do gado.

Agostinho Dias Delgado veste de negro. Veio ao Fundão para se animar pois ficou viúvo. Em cima da ponte sobre o lago da Quinta Pedagógica observa uma aprendiza de mondadeira e logo acelera o passo e eleva a voz para dizer aos companheiros de visita que há ali monda e que tem de experimentar. Arregaçou as mangas e embora o punho do blusão tivesse pouca margem para subir do pulso ao cotovelo do braço, Agostinho não esteve com mais pormenores. Começou a arrancar as ervas dos morangueiros.

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Satisfeito e com o olhar a reluzir confessa-nos que “toda a vida” trabalhou no campo. “Tenho saudades da horta, mas já não tenho forças”, afirma quem no entanto ainda manifesta curiosidade em concretizar um passeio equestre. “Cheguei a andar de cavalo, sei como é mas já não tenho força”, confessa o bem-disposto utente da Misericórdia de Sobreira Formosa.

O grupo é bastante autónomo e as pessoas que o constituem tiveram variadas ocupações. Felisbela Pereira lembra-se do Portugal no tempo da ditadura de Salazar e orgulha-se de ter sido administrativa no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Recorda a vida em Lisboa e as viagens à Beira Baixa bem como as encomendas de cereja da região. “E quando não vínhamos, havia sempre um colega do Fundão que nos leva as cerejas do Fundão”.

E ainda há cerejas, pergunta Domingos Henriques!

É pouco provável que a comitiva ainda tenha conseguido comprar cerejas do Fundão mas na bagagem para Sobreira Formosa levaram, certamente, as boas recordações de um dia cheios de conversas, experiências e jogos tradicionais.

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O intercâmbio entre organizações também pode acrescentar vida aos anos. Assim será quando os utentes da Misericórdia do Fundão forem à Santa Casa de Sobreira Formosa. Boas práticas!

Gabinete de Ação Social o “coração” da Misericórdia

“O que nos caracteriza e diferencia dos restantes técnicos é termos uma paixão pela terceira idade. Aqui o grande foco são as pessoas”.

Ajudar até ao limite. Esse é o desígnio do Gabinete de Ação Social (GAS) da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF). Foi criado em março de 2002 e é encarado como o “coração da Misericórdia”. O tom afirmativo de Elisabete Reis denota uma pontinha de orgulho corroborado pela restante equipa técnica. Coordenado por Lurdes Silva o GAS caracteriza-se por um percurso que também entusiasma Cristina Guedes e Tânia Batista.

A “procura incessante” de respostas para a multiplicidade de problemas provenientes dos mais variados estratos sociais é a missão da equipa que nas últimas semanas contou com mais um elemento. A estagiária Ana Cristina Cunha que elegeu este serviço da SCMF como escola de aprendizagem prática complementar à teoria assimilada na Escola Superior de Educação. “Há longos anos que a SCMF colabora com várias entidades que escolhem o serviço da ação social para acolhermos estágios curriculares”, contextualiza Lurdes Silva.

 

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A Ação Social está no ADN da Misericórdia, desde sempre. O GAS existe há 15 anos mas antes da constituição deste gabinete importa esclarecer que no âmbito de um Projeto de Luta contra a Pobreza nasceu o CIDES – centro integrado de desenvolvimento social que acumulava a ação social da SCMF e a ação social inerente à luta contra a pobreza. Foi após a conclusão desse projeto que a SCMF constituiu o designado GAS. Esta valência da SCMF chegou a funcionar no edifício do antigo hospital do Fundão, na antiga sede social da Misericórdia e no NAI – núcleo de apoio a idosos. Há pouco mais de um ano mudou-se para a nova sede social da SCMF.

As boas práticas do agora designado GAS vêm de longe e com o passar dos anos ganharam notoriedade ao ponto de “inspirarmos outras entidades”. Aconteceu com a Casa Pia de Lisboa “onde chegamos a ir para dar a conhecer o nosso trabalho”. “Sempre fomos uma instituição modelo”. Outras entidades de natureza social, reconhecendo “as boas práticas de intervenção comunitária”, vieram ao Fundão “beber da nossa experiência”, explica Cristina Guedes.

“No âmbito do Projeto Rodas tínhamos uma unidade técnica que se dedicava à educação parental, pessoal e social. Também desenvolvíamos estudos que posteriormente foram fator preponderante no estabelecimento de parcerias, por exemplo, com a Universidade da Beira Interior que até permitiram recuperar habitações”. “Um modelo que trouxe ao Fundão técnicos do gabinete de ação social do Município de Cascais”, outra das entidades a reconhecer as competências da SCMF.

Orgulhosas do percurso e trabalho feitos, Cristina Guedes e Lurdes Silva quase se atropelam quando recordam os projetos, vitórias e frustrações de uma equipa que foi pioneira na constituição de um gabinete de apoio ao imigrante ou na abertura de uma cantina social. “Também realizámos aqui a primeira comemoração do Dia dos Avós. Estávamos em 2003”.

O entusiasmo é indiscritível quando Elisabete Reis nos fala da permanente cooperação entre entidades, instituições locais e regionais. Um modo de estar que se mantém pois a resposta do GAS ou da RLIS – rede local de intervenção social, que entretanto abriu na SCMF, depende muitas vezes dessa “partilha de meios e serviços”.

É essa cooperação que “nos permite continuar a responder a todas as solicitações de natureza social, salvo o apoio aos imigrantes pois o Município do Fundão dispõe desde há uns anos de um gabinete específico”. “Mesmo assim, quando nos aparece aqui um imigrante nós ajudamo-lo ou encaminhamo-lo para outras respostas”, esclarece Tânia Batista.

“Somos uma instituição modelo”

Embora a nomenclatura das respostas tenha mudado a SCMF continua a oferecer serviços de proximidade à região. “Continuamos a desenvolver as mesmas áreas exceto a formação profissional que existiu no tempo do projeto de luta contra a pobreza. Atualmente também damos formação educacional e parental aos agregados familiares que acompanhamos”, contam-nos as técnicas.

Desafiadas a partilhar com os leitores os momentos mais intensos do GAS ou as frustrações de quem muitas vezes se sente “impotente” para resolver situações em que as pessoas não aceitam ajuda, as técnicas da SCMF começam a desfiar memórias e entusiasmam-se sobremaneira no relato das vivências associadas à imigração.

“Nós chegámos a apoiar aqui russos, ucranianos e moldavos. Também acolhemos brasileiros cuja família conseguimos ajudar a legalizar e até criámos condições para lhe arranjar emprego”, descrevem.

Ao longo dos anos muitos imigrantes refizeram a vida no Fundão graças às intervenções do GAS e ao “acompanhamento de uma equipa multidisciplinar que muito trabalhou para a legalização desses estrangeiros”.

Mas também houve frustrações. Foi o caso de um jovem estudante ucraniano que chegou a estudar musica na Academia de Música e Dança do Fundão (AMDF) mas que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras não conseguiu ajudar a legalizar, obrigando o jovem a regressar a Kiev.

As respostas da SCMF eram de tal forma intensas que, com a ajuda de todos os parceiros e entidades oficiais, “nos permitimos realizar aqui um encontro informal de imigrantes ilegais”. Lurdes Silva recua a 2002 vincando a importância de “fomentar sinergias locais recorrendo até aos professores da AMDF que eram interpretes e muito nos ajudaram a encaminhá-los para aulas de português e posteriormente para os serviços e respostas integradas”.

O apoio aos estrangeiros mantém-se, ainda em 2010 o GAS recebeu e encaminhou para os serviços da SCMF um cidadão francês que foi abandonado e roubado em Portugal e escolheu refazer a vida no Fundão. “Hoje em dia continua a ocupar muito do seu tempo no nosso centro de dia onde lhe servimos as refeições”, confirma Elisabete Reis.

A relação do GAS com a imigração é atualmente sazonal e prende-se com a época de colheita da cereja no Fundão. “Muitas dessas pessoas chegam para a apanha da cereja vêm ao GAS solicitar respostas e apoios para as refeições”.

“O GAS é transversal a toda a Misericórdia”

Instalado no primeiro piso da sede da SCMF ao pé da Quinta Pedagógica do Fundão o GAS que “é transversal a toda a instituição” recebe diariamente dezenas de pessoas que pretendem “inscrever-se” nos lares, centros de dia ou solicitar apoio domiciliário.

Um trabalho intenso e diversificado pois cada “pessoa tem uma história para a qual criamos uma resposta integrada e individual”, esclarece Lurdes Silva.

Na sala com vistas para a Quinta Pedagógica e para a Gardunha a beleza da paisagem nem sempre é suficientemente inspiradora para agilizar respostas pois “somos deficitários” em número de camas e em vagas até para centro de dia.

De acordo com Lurdes Silva, “só em algumas respostas”, nas aldeias, é possível encontrar vagas em centro de dia uma vez que “no Fundão não temos capacidade para acolher mais utentes”. Uma dificuldade que se acentua nas Estruturas Residenciais para Idosos onde “precisamos igualmente de mais camas” e nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) de média e longa duração.

“A nossa maior frustração é percebermos que não respondemos em tempo útil” às solicitações de quem envelhece, fica sozinho ou tantas vezes tem alta hospitalar e não tem família. Lurdes Silva aponta o dedo ao Estado que “não abre novos acordos de cooperação” com as entidades sociais que tantas vezes se substituem à família acolhendo e cuidando de quem precisa, de um lar ou UCCI e esbarra na “falta de espaço” ou na indisponibilidade do Estado para financiar novas respostas.

“Ajudamos até ao limite”

No GAS “tocamos em todas as valências” da SCMF. De forma direta ou indireta “estamos em contacto permanente” com o exterior, “continuamos a fazer visitas domiciliárias, agilizamos intervenções de natureza institucional, acionamos outros colegas sempre em prol das pessoas e da comunidade”, explicam.

Um trabalho multidisciplinar que também se realiza em contexto institucional pois a SCMF integra o Centro Local de Ação Social. Exemplo deste trabalho é a disponibilidade de afetação das técnicas Tânia Batista e Lurdes Silva para projetos na área da intervenção social como a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco e a Comissão Municipal de Proteção à Pessoa Idosa do Fundão.

Mas a abrangência social da SCMF estende-se ao concelho da Covilhã e nesse sentido è habitual que também as forças vivas daquele território procurem o GAS para perceber das “ofertas e serviços de apoio a pessoas carenciadas, doentes ou dependentes”.

A cantina social, a inscrição nas hortas sociais ou o apoio pontual a carenciados, traduzido no “pagamento de água, luz, transportes” são assuntos igualmente trados no GAS onde “ajudamos até ao limite”. Mas “nem sempre somos acompanhados pelas restantes entidades”, explica Lurdes Silva aludindo à falta de mais legislação que ajude a solucionar dificuldades “por exemplo, nos casos das pessoas semi-dependentes”.

E aqui entra a história de duas irmãs do Fundão que há 15 anos se cruzaram a primeira vez com o GAS. De então para cá, por diversas vezes e em diferentes circunstâncias “temos ajudado mas a nossa determinação  nem sempre é suficiente pois impera a vontade própria” das utentes.

A coordenadora do GAS admite que “a missão de servir pessoas nem sempre é fácil” e que muitas vezes “o mais rápido seria descartar” ou encaminhar para outras instâncias algumas das solicitações. Porém “é enriquecedor esforçarmo-nos para ajudar”, conclui.

A determinação e empenho que caracterizam o trabalho do GAS permitiram à SCMF acolher outras respostas nomeadamente para vítimas de violência doméstica e outros casos mais agudos. “Houve um tempo em que ao abrigo de um protocolo distrital acolhíamos, no lar da Misericórdia, vítimas de violência doméstica”, explica Tânia Batista.

Relatos na primeira pessoa por parte de quem ocupa o tempo de serviço entre o GAS e o trabalho externo que muitas vezes é realizado nos centros de dia da SCMF, nas visitas surpresa e de apoio domiciliário ou na celebração de datas festivas, junto de utentes e colaboradores de todas as estruturas de apoio a idosos na SCMF.

Além do trabalho burocrático e de aconselhamento a pessoas, não raras vezes as técnicas do GAS arregaçam as mangas e criam lembranças que mais tarde serão mimo para as centenas de utentes cujas vidas se cruzam e redesenham nos dossiers e ficheiros excel no GAS.

Mas na SCMF as pessoas não são números e por essa razão “os utentes estão sempre em primeiro lugar”.