A Aventura de Trabalhar a Terra

Fomos ao encontro de três jovens estudantes na Escola Profissional do Fundão que realizaram estágios curriculares na Quinta Pedagógica da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

Caíto Djaló tem o mesmo sobrenome de Yannick que foi jogador do Sporting e do Benfica. Um e outro nasceram na Guiné Bissau. Mas o percurso dos dois nunca se cruzou. O jovem Caíto está no Fundão para concluir o ensino secundário e enveredar por uma licenciatura. Já o jogador que vestiu as cores da seleção de Portugal continua a dedicar-se ao desporto e ainda é uma referência do futebol. O jovem Caíto que estagiou na Quinta Pedagógica do Fundão está na região ao abrigo de um protocolo de cooperação entre os municípios do Fundão e de Bissau.

Caito tem 19 anos, reside no Fundão, e tal como Tiago Mendes de 16 anos, que mora em Valverde, concluiu o 10º ano de escolaridade do curso profissional de gestão de ambiente. Faz um balanço “muito bom” de um estágio que lhe permitiu “aprender a sachar, alimentar os animais e aproveitar a alfazema”. Embora o curso lhes ensine a calcular cotas e declives, a fazer escalas e a ler relevos, os estagiários da Escola Profissional do Fundão admitem que a teoria que trazem da aprendizagem não se coaduna com a experiência de um mês de trabalho na Quinta Pedagógica do Fundão. Mas isso não os desmoralizou!

Só o calor e os primeiros dias em que foram convocados a ajudar nos trabalhos agrícolas lhes causaram algum desânimo pois “estava imenso calor” e mondar erva não é, de todo, o forte destes estudantes.

Da aprendizagem na escola retiram a experiência que os ajudou a “identificar o ADN da cereja”, explica Daniela Carvalho de 18 anos e residente em Vale de Prazeres. “Aqui na quinta também aprendi muita coisa que desconhecia. É o caso do nome de algumas plantas e as suas propriedades, às vezes medicinais”.

DSC_0050

E em que medida é que o estágio consolida aprendizagem e acrescenta experiência para o percurso fora da escola?

Daniela afirma que o estágio a ajudou descobrir a dureza da vida no campo. “Nunca pensei que o campo fosse tão duro e admira-me como é que os agricultores conseguem manter-se tanto tempo debaixo de sol e expostos às mudanças climáticas”.

Não sabemos se a gestão do ambiente pode ajudar a melhorar as boas práticas e dinâmicas na Quinta Pedagógica do Fundão mas temos a firme convicção de que os jovens estagiários são portadores de ideias interessantes e capazes de acrescentar valor à programação pedagógica e de laser desta resposta da Santa Casa da Misericórdia do Fundão. Caíto Djaló sugere a plantação de “mais árvores de fruto, mais animais e mais colaboradores”. “O ciclo da vida nos animais” ou a “recriação das tradições à volta da matança e aproveitamento da carne de porco”, foram outras das sugestões.

Embora tenham gostado de conhecer o mundo rural, quase todos preferem realizar o próximo estágio em contextos diferentes. Caíto tem interesse “na análise e monitorização da água potável”. Mas como já tem alguns conhecimentos em gestão ambiental também gostaria de descobrir o essencial sobre “gestão e acompanhamento de ecopontos”. A gestão de resíduos sólidos urbanos poderá ser uma das linhas de ação no mercado de trabalho destes jovens frequentadores do ensino profissional. Mas nem todos estão decididos a enveredar por essa área. Daniela está determinada em viajar e conhecer outras realidades. Mas também admite vir a ser “bombeira profissional”.

Menos ambicioso é Tiago que pretende elaborar o relatório de estágio, fazer os exames e fazer uma pausa nos estudos.”Quero sair da escola” afirma com convicção o jovem que gosta de “informática”.

Da experiência na Quinta Pedagógica da Misericórdia do Fundão, os estagiários levam as práticas de acompanhamento e assistência aos visitantes, batismo equestre, a prática de jogos tradicionais e os workshops mãos na massa ou de aproveitamento de ervas aromáticas.

Neste dia o grupo de estagiários estava a fazer rocas de alfazema. E havia um suave perfume no ar…..

DSC_0031

Deixe um comentário